15 janeiro 2006

 

Basta!

As exigências que impõe o dever de reserva - dever complexo na relativa antinomia entre a fluidez de perímetro e a finalidade inafastável como dever instrumental da imparcialidade objectiva - transportam consigo, no rigor das coisas, um corte na plenitude da cidadania no plano da expressão pública de sentimentos.
Não obstante, em questões essenciais, há sentimentos cuja manifestação o dever de reserva não pode impedir. A liberdade (melhor, o dever) de intervenção e de opinião ficaria, então, reduzida a limites constitucionalmente intoleráveis.
Seja-me permitido, por isso, manifestar um sentimento intenso de radical desencanto com o ambiente surrealista dos acontecimentos dos últimos dias - em que uma vez mais, e logo antes de tudo, se pretendeu amarrar ao pelourinho a justiça e as suas instituições.
Não ponho em causa a gravidade - objectiva - dos factos numa primeira e liminar abordagem.
Mas tenho o direito de cidadania de sentir uma profunda desilusão pelo modo de reacção.
Pela agitação, apriorística e de pré-comprensão imediatista de factos (ou supostos factos), na dependência da agenda de certa imprensa e ampliada pela comunicação.
Pelas pré-conclusões de primeira aparência, em inversão de valores na abordagem institucional.
Pela imediata insinuação sobre responsabilidade de servidores das instituições judiciárias, em desconfiança prévia e brutal sobre a regularidade das suas actuações.
Pela leveza insustentável - sim, é isto mesmo a insustentável leveza - com que parecem retirar-se conclusões antes da averiguação sobre os factos, apresentadas como pressupostos quanto à necessidade, natural e urgente, de esclarecimento completo.
Tudo isto tem objectivamente como efeito o risco de dissolução do Estado e das suas instituições fundamentais.
E aqui a comunicação também tem deveres e responsabilidades que lhe são impostos pela sua missão de interesse público.
Basta!





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