13 março 2006

 

Um «case study»

Afinal, o jornal «24 Horas», ao aceder aos registos de chamadas telefónicas de numerosas personalidades públicas, descodificando os respectivos dados informáticos e tornando-os públicos, praticou uma acção patriótica digna de todo o aplauso e provavelmente merecedora de uma medalha, talvez a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Essa parece ser a conclusão a extrair das palavras do Professor Jónatas Machado, que enalteceu essa heroicidade jornalística enquadrando-a na meritória categoria de «jornalismo de investigação» e exortando o jornalismo nacional, tão pobre de exemplos desse género, a seguir esse audacioso exemplo. Esse rasgado elogio do Professor, que escreveu uma tese sobre «Liberdade de Expressão» com cerca de 900 páginas, ficou-me atravessado, e depois de sair do programa «Prós e Contras» vim a pensar nesse curioso tipo de «jornalismo de investigação» inaugurado pelo jornal «24 Horas». «Jornalismo de investigação?» - questionava-me eu com inquietação, enquanto me conduziam da Casa do Artista, onde o programa tivera lugar, para o hotel. Respondia absortamente às observações do simpático motorista sobre o tempo, a paisagem urbana envolvente, as ruas desertas àquela hora nocturna. «Jornalismo de investigação?», ia eu matutando. Bem! uma pessoa está sempre a aprender, não é? Mas a verdade é que isso me baralhava os conceitos, e de que maneira! E dizia para comigo que, nestes tempos que estamos a viver, não há nada que se possa ter por assente. Se alguma coisa há que se possa ter por assente, ela é a confusão. Cá para mim, aquilo que o jornal «24 Horas» tinha feito não passava da exploração sensacionalista de um incidente, muito adequado a proporcionar ao jornal o seu momento de glória e a fazer acrescer o rol de incidentes com que certa imprensa vai, interessadamente, lançando o descrédito sobre um processo em curso. Mas, pelos vistos, se um conceituado académico nos assevera que se trata de uma genuína investigação jornalística, então talvez tenhamos de ver nessa acção um enriquecimento do género. E talvez isso seja digno de um aprofundamento teorético à altura, como verdadeiro «case study».





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