07 março 2006
Monstruosa indigência de espírito? – um comentário
Concordo integralmente com o texto do Maia Costa, com excepção da perspectiva generosa de que a abordagem aí criticada seja fruto de uma monstruosa indigência de espírito, antes fosse...
Com efeito, o assassinato de Gisela determinou duas linhas de leituras oportunistas, em que se revelam inconfessáveis semelhanças ao brandir armas contra as alegadas passividades ou benevolências na reacção social:
a) o problema deriva do tratamento dos delinquentes como vítimas e da falta de responsabilização dos jovens marginais;
b) a falta de uma musculada e adequada reacção deriva dos preconceitos contra a vítima transexual, acrescentando os mais fervorosos que o facto dos criminosos estarem a cargo de uma instituição da Igreja Católica só reforça a solidariedade social com os mesmos (a qual, obviamente, tem de ser quebrada).
Os factos raramente incomodam estes opinadores ideologicamente impregnados, nomeadamente a dificuldade em divisar neste caso falta de indignação colectiva (o que aliás seria improvável num país campeão das indignações) relativamente à violência inclassificável que atingiu de forma gratuita uma vítima indefesa e a circunstância de na resposta estadual se ter aplicado a medida cautelar mais grave prevista na lei a 13 dos 14 suspeitos, inclusive ao «jovem adulto» de 16 anos - em última instância poderão sempre invocar a omissão de um linchamento à antiga.
Já a afirmação, mesmo fora da retórica da ressocialização (que bem ou mal consta das leis que regulam as reacções a factos penalmente ilícitos praticados por menores e maiores), de que a resposta do Estado não pode ser assumida em nome da estrita justiça à vítima (que já não pode beneficiar dela) certamente implicará que o autor da mesma seja premiado com um qualquer labéu. E então, se se afirmar que mesmo estes suspeitos devem beneficiar da presunção de inocência, e que em espirais de violência colectivas existirá um especial dever de indagação das plurais individualidades envolvidas, será uma argumentação certamente percepcionada como fruto de uma empatia com a delinquência ou de uma solidariedade com a discriminação revelada no assassinato.
Com efeito, o assassinato de Gisela determinou duas linhas de leituras oportunistas, em que se revelam inconfessáveis semelhanças ao brandir armas contra as alegadas passividades ou benevolências na reacção social:
a) o problema deriva do tratamento dos delinquentes como vítimas e da falta de responsabilização dos jovens marginais;
b) a falta de uma musculada e adequada reacção deriva dos preconceitos contra a vítima transexual, acrescentando os mais fervorosos que o facto dos criminosos estarem a cargo de uma instituição da Igreja Católica só reforça a solidariedade social com os mesmos (a qual, obviamente, tem de ser quebrada).
Os factos raramente incomodam estes opinadores ideologicamente impregnados, nomeadamente a dificuldade em divisar neste caso falta de indignação colectiva (o que aliás seria improvável num país campeão das indignações) relativamente à violência inclassificável que atingiu de forma gratuita uma vítima indefesa e a circunstância de na resposta estadual se ter aplicado a medida cautelar mais grave prevista na lei a 13 dos 14 suspeitos, inclusive ao «jovem adulto» de 16 anos - em última instância poderão sempre invocar a omissão de um linchamento à antiga.
Já a afirmação, mesmo fora da retórica da ressocialização (que bem ou mal consta das leis que regulam as reacções a factos penalmente ilícitos praticados por menores e maiores), de que a resposta do Estado não pode ser assumida em nome da estrita justiça à vítima (que já não pode beneficiar dela) certamente implicará que o autor da mesma seja premiado com um qualquer labéu. E então, se se afirmar que mesmo estes suspeitos devem beneficiar da presunção de inocência, e que em espirais de violência colectivas existirá um especial dever de indagação das plurais individualidades envolvidas, será uma argumentação certamente percepcionada como fruto de uma empatia com a delinquência ou de uma solidariedade com a discriminação revelada no assassinato.
O que lhes interessa é apenas exemplos públicos e não perder oportunidade para revelarem zelo na superação de certos tabus, aliás a história mostra-nos que a distância entre determinados pólos marca-se apenas no lado da barricada... as vítimas e outras baixas de certo que não podem esperar muito de tais defensores.
O mais preocupante é a circunstância de tais prelectores não padecerem de uma monstruosa indigência de espírito que poderia atenuar a sua capacidade de influência em todas as instâncias!