10 fevereiro 2008
Um Arcebispo multicultural
Como era de esperar, as declarações do Arcebispo de Cantuária a favor do reconhecimento da lei islâmica em Inglaterra suscitaram a condenação liminar e uniforme dos sectores conservadores (lá como cá). Era de esperar desde logo porque se trata da lei islâmica, a "lei dos terroristas", mas também por constituir uma "cedência" da superior civilização ocidental às outras civilizações (necessariamente inferiores).
E logo citaram aqueles preceitos da lei islâmica mais retrógrados (caídos em desuso na grande maioria dos países islâmicos) como os que punem o adultério feminino com o apedrejamento até à morte ou que prevêem a amputação da mão direita aos ladrões.
Será que é isso que o Arcebispo quer introduzir em Inglaterra? Obviamente que não. Ele não terá sido muito claro, mas falou apenas da possibilidade de opção, pelos muçulmanos ingleses, da lei islâmica em algumas questões, como as de direito de família ou as questões económicas.
Mas tanto bastou para um ataque frontal à ideia da multiculturalidade. Eu acho, pelo contrário, que esta ideia é decisiva no mundo de hoje, que é nela que tem de assentar a convivência nas sociedades complexas e multi-étnicas da Europa, como é, já hoje, Portugal.
O reconhecimento de outros ordenamentos jurídicos, oriundos de outras culturas, virá eventualmente a ser uma necessidade, para sustentar a convivialidade nessas sociedades. Mas não pode deixar de ter limites: os impostos pela Constituição. Essa parece-me a fronteira inultrapassável da relevância da multiculturalidade.
E logo citaram aqueles preceitos da lei islâmica mais retrógrados (caídos em desuso na grande maioria dos países islâmicos) como os que punem o adultério feminino com o apedrejamento até à morte ou que prevêem a amputação da mão direita aos ladrões.
Será que é isso que o Arcebispo quer introduzir em Inglaterra? Obviamente que não. Ele não terá sido muito claro, mas falou apenas da possibilidade de opção, pelos muçulmanos ingleses, da lei islâmica em algumas questões, como as de direito de família ou as questões económicas.
Mas tanto bastou para um ataque frontal à ideia da multiculturalidade. Eu acho, pelo contrário, que esta ideia é decisiva no mundo de hoje, que é nela que tem de assentar a convivência nas sociedades complexas e multi-étnicas da Europa, como é, já hoje, Portugal.
O reconhecimento de outros ordenamentos jurídicos, oriundos de outras culturas, virá eventualmente a ser uma necessidade, para sustentar a convivialidade nessas sociedades. Mas não pode deixar de ter limites: os impostos pela Constituição. Essa parece-me a fronteira inultrapassável da relevância da multiculturalidade.