14 março 2010
Agora os sinos tocam a rebate
O drama do jovem estudante de Mirandela que se lançou às águas do rio Tua, onde veio a desaparecer como consequência, ao que se diz, da prática do “bullying” (mais um estrangeirismo abominável, que parece que quer dizer “sevícias”, tanto morais como físicas), por parte dos colegas, tem sido notícia diária nos meios de comunicação social. No seu seguimento, outros casos vão aflorando à tona da realidade, depois de terem passado despercebidos no meio da indiferença dos casos banais que não merecem notícia. É o caso agora dado à luz, ou pelo menos “repescado” com outro relevo e outro significado, granjeado pelo alarme que aquele suscitou, do professor de Sintra, que se atirou ao Tejo da ponte “25 de Abril”. É sempre assim: se um caso chocante aparece sob os holofotes da comunicação social, outros são redescobertos por arrastamento, como se encadeados numa série que adquire um sentido estruturante. É o “bullying” – a nova moda bárbara. No caso do professor, também se pretende, bem ou mal, associar ao “bullying” o seu suicídio, o que significaria que essa prática de violência física e psicológica exercida nos meios juvenis se converteria num sintoma mais vasto: a falta de disciplina e de autoridade, o caos escolar.
Três observações:
1 - A violência escolar, como sinal específico de uma violência mais vasta que atravessa a nossa sociedade, constituindo uma forma de cultura que assinala muito da nossa vivência contemporânea, tem vindo a acentuar-se de uma forma preocupante de há uns anos a esta parte, a começar por esses estúpidos e crassos rituais da praxe académica, que têm grassado como epidemia por todo o lado, e à sombra dos quais se têm cometido as mais nefandas atrocidades, com a complacência de muitos responsáveis. Mas não só: também a violência para com professores, como consequência da degradação do ensino, da falta de autoridade (não digo autoritarismo), da permissividade e da condescendência com práticas de prepotência, num errado entendimento da “tolerância democrática”. Passou-se, literalmente do “totalitarismo” escolar, como eu o conheci, para a anarquia total.
2 - A violência exerce-se predominantemente contra os mais fracos, que, justamente por isso, deviam merecer mais protecção. Isso foi de sempre. O ser humano sempre se comprazeu em espezinhar os mais débeis (não só os seus semelhantes, mas também outros seres mais expostos à fereza dos seus instintos animalescos). Quer no caso do jovem de Mirandela, quer no caso do professor, tratava-se de pessoas “frágeis”, ao que se pode colher de informações disponíveis. Esse desforço sobre os mais fracos sempre foi abjecto; fazer dessa abjecção um “desporto”, uma prática ou uma “moda” eis o que há de mais intolerável, porque aí reside a raiz do que de mais hediondo se praticou ao longo dos tempos.
3 - É lamentável que em Portugal seja preciso que os desastres aconteçam, e estes dramas de desespero gritem a sua exasperação para que, finalmente, se tomem medidas.
Três observações:
1 - A violência escolar, como sinal específico de uma violência mais vasta que atravessa a nossa sociedade, constituindo uma forma de cultura que assinala muito da nossa vivência contemporânea, tem vindo a acentuar-se de uma forma preocupante de há uns anos a esta parte, a começar por esses estúpidos e crassos rituais da praxe académica, que têm grassado como epidemia por todo o lado, e à sombra dos quais se têm cometido as mais nefandas atrocidades, com a complacência de muitos responsáveis. Mas não só: também a violência para com professores, como consequência da degradação do ensino, da falta de autoridade (não digo autoritarismo), da permissividade e da condescendência com práticas de prepotência, num errado entendimento da “tolerância democrática”. Passou-se, literalmente do “totalitarismo” escolar, como eu o conheci, para a anarquia total.
2 - A violência exerce-se predominantemente contra os mais fracos, que, justamente por isso, deviam merecer mais protecção. Isso foi de sempre. O ser humano sempre se comprazeu em espezinhar os mais débeis (não só os seus semelhantes, mas também outros seres mais expostos à fereza dos seus instintos animalescos). Quer no caso do jovem de Mirandela, quer no caso do professor, tratava-se de pessoas “frágeis”, ao que se pode colher de informações disponíveis. Esse desforço sobre os mais fracos sempre foi abjecto; fazer dessa abjecção um “desporto”, uma prática ou uma “moda” eis o que há de mais intolerável, porque aí reside a raiz do que de mais hediondo se praticou ao longo dos tempos.
3 - É lamentável que em Portugal seja preciso que os desastres aconteçam, e estes dramas de desespero gritem a sua exasperação para que, finalmente, se tomem medidas.