04 maio 2013

 

As velhas novas medidas de austeridade


Mas haveria alguma expectativa relativamente às acrescentadas medidas de austeridade agora anunciadas? Elas já estavam cozinhadas há meses e constavam, na sua parte substancial, do famoso parecer do FMI.

As reacções que se lhe seguiram foram de tal modo hostis, que o famoso documento “independente” ficou na gaveta à espera de ocasião propícia. Esta surgiu com o acórdão do Tribunal Constitucional.

A partir daí, toda a propalada urgência de encontrar medidas alternativas que compensassem o chumbo de algumas normas do Orçamento passou a ser imputada ao aresto daquele Tribunal. Mas as medidas alternativas já vinham rescendendo a esturro há muito tempo. Assim é que, não obstante ser previsível o chumbo de algumas normas do Orçamento, não só pela quantidade convergente de pedidos de inconstitucionalidade, como pela qualidade das entidades que os suscitaram e ainda pela credibilidade dos argumentos  que os escoravam, bem como pelas declarações públicas de reputados constitucionalistas, o Governo não usou daquela prudência que se impunha, elaborando uma solução alternativa para tal hipótese.

Esperou pela decisão do TC, para, então, arremedando surpresa, se atirar a ela com o denodo próprio de quem se sente atingido à falsa fé. A partir desse momento, a decisão do TC passou a ser, nos discursos oficiais, uma espécie de calamidade pública que tivesse salteado o país, tanto foi usada e glosada até à náusea.

Por outras palavras: foi instrumentalizada politicamente e nessa instrumentalização é que reside o escândalo da sua obsessiva contestação e invocação. Ninguém duvida de que existe um direito de crítica em relação às decisões judiciais, mas o que se tem passado com o acórdão do TC não tem nada a ver com o direito de crítica (mesmo supondo a sua admissibilidade por parte de membros de outros órgãos de soberania). É um seu desvirtuamento, porque instrumentalizado para fins políticos e, ainda por cima, fins políticos de cuja autenticidade é lícito duvidar.

Como se disse, as medidas supostamente adoptadas para tapar os buracos deixados pelo chumbo do TC já faziam parte, desde muito antes do acórdão, dos planos do Governo, em parceria com FMI, para levar por diante a célebre reforma do Estado.   





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?


Estatísticas (desde 30/11/2005)