15 fevereiro 2006

 

Quem é o agressor?

A fogosa comentarista Teresa de Sousa, reputada "atlantista", insurgiu-se contra o MNE por este ter dito, aquando da cerimónia de doutoramento honoris causa de Aga Khan na Universidade de Évora, que, no confronto Ocidente-Islão, temos sido nós os maiores agressores, o que a jornalista qualifica imediatamente de "terceiro-mundismo" (há tanto tempo que não se ouvia isto!) e de "antiamericanismo" (evidentemente).
No entanto, aquela afirmação limita-se a reconhecer uma realidade histórica indesmentível. Não é preciso ir às Cruzadas, nem ao colonialismo, que apanhou nas suas garras quase todos os países islâmicos, de Marrocos à Indonésia. As "intervenções" ocidentais adquiriram maior intensidade com o fim do Império Otomano (e a subsequente partilha dos despojos entre a Inglaterra e a França) e muito particularmente depois da 2ª Guerra Mundial, quando aos agressores tradicionais se juntou um novo parceiro (e que parceiro!): os EUA. E foi nessa época que se abriu uma ferida profunda que não tem cessado de agravar-se - a criação do Estado de Israel, que se destinava a recompensar os judeus pela perseguição nazi, recompensa que foi paga afinal pelos palestinianos, escorraçados de grande parte do seu território e depois colonizados e oprimidos no que restava dele, sempre com o apoio directo e militante dos EUA e do "Ocidente" em geral. Tudo isto a par de intervenções militares (Líbano, Afeganistão, Iraque) ou de golpes militares fomentados do exterior ou da manipulação política interna, mediante o apoio a ditaduras e regimes feudais ou, em contraste, o fomento da queda de regimes nacionalistas e laicos. Tudo por causa do cheiro do petróleo, como se sabe. Muito, muito mais se poderia acrescentar.
Por isso, as manifestações islâmicas, cujas imagens mais "fanáticas" as TV's ocidentais não se cansam de passar, têm de ser compreendidas neste contexto global.





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