16 julho 2007
Somos todos Hispanos
Da entrevista dada por Saramago ao Diário de Notícias de ontem, 15 de Julho, extracto a parte em que ele se referiu, de modo não profético, ao que pensa ser o futuro de Portugal: a integração na Espanha, embora sem nos convertermos em espanhóis. Sermos mais uma província da Espanha, acabando por nos integrarmos nela pacificamente, depois de termos guerreado heroicamente para nos vermos livres dela. Torga escreveu num dos últimos ou mesmo no último volume do “Diário” que “somos europeus de primeira, espanhóis de segunda e portugueses de terceira”. Assim, acabaremos com essa infausta posição, eliminando pelo menos a terceira classe.
Com o rumo que as coisas levam, não digo que não apeteça sinceramente a muita gente passar-se para o outro lado, abandonando o fa( r )do de ser português de Portugal.
P - Vive num país que pouco a pouco toma conta da economia portuguesa. Não o incomoda?
R - Acho que é uma situação natural.
P - Qual é o futuro de Portugal nesta península?
R - Não vale a pena armar -me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos.
P - Política, económica ou culturalmente?
R - Culturalmente, não, a Catalunha tem a sua própria cultura, que é ao mesmo tempo comum ao resto da Espanha, tal como a dos bascos e a galega, nós não nos converteríamos em espanhóis. Quando olhamos para a Península Ibérica o que é que vemos? Observamos um conjunto, que não está partida em bocados e que é um todo que está composto de nacionalidades, e em alguns casos de línguas diferentes, mas que tem vivido mais ou menos em paz. Integrados o que é que aconteceria? Não deixaríamos de falar português, não deixaríamos de escrever na nossa língua e certamente com dez milhões de habitantes teríamos tudo a ganhar em desenvolvimento nesse tipo de aproximação e de integração territorial, administrativa e estrutural. Quanto à queixa que tantas vezes ouço sobre a economia espanhola estar a ocupar Portugal, não me lembro de alguma vez termos reclamado de outras economias como as dos Estados Unidos ou da Inglaterra, que também ocuparam o país. Ninguém se queixou, mas como desta vez é o castelhano que vencemos em Aljubarrota que vem por aí com empresas em vez de armas...
P - Seria, então, mais uma província de Espanha?
R - Seria isso. Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla la Mancha e tínhamos Portugal. Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar. O Ceilão não se chama agora Sri Lanka, muitos países da Ásia mudaram de nome e a União Soviética não passou a Federação Russa?Mas algumas das províncias espanholas também querem ser independentes!A única independência real que se pede é a do País Basco e mesmo assim ninguém acredita.
P - E os portugueses aceitariam a integração?
R - Acho que sim, desde que isso fosse explicado, não é uma cedência nem acabar com um país, continuaria de outra maneira. Repito que não se deixaria de falar, de pensar e sentir em português. Seríamos aqui aquilo que os catalães querem ser e estão a ser na Catalunha.
P E como é que seria esse governo da Ibéria?
R - Não iríamos ser governados por espanhóis, haveria representantes dos partidos de ambos os países, que teriam representação num parlamento único com todas as forças políticas da Ibéria, e tal como em Espanha, onde cada autonomia tem o seu parlamento próprio, nós também o teríamos.
Com o rumo que as coisas levam, não digo que não apeteça sinceramente a muita gente passar-se para o outro lado, abandonando o fa( r )do de ser português de Portugal.
P - Vive num país que pouco a pouco toma conta da economia portuguesa. Não o incomoda?
R - Acho que é uma situação natural.
P - Qual é o futuro de Portugal nesta península?
R - Não vale a pena armar -me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos.
P - Política, económica ou culturalmente?
R - Culturalmente, não, a Catalunha tem a sua própria cultura, que é ao mesmo tempo comum ao resto da Espanha, tal como a dos bascos e a galega, nós não nos converteríamos em espanhóis. Quando olhamos para a Península Ibérica o que é que vemos? Observamos um conjunto, que não está partida em bocados e que é um todo que está composto de nacionalidades, e em alguns casos de línguas diferentes, mas que tem vivido mais ou menos em paz. Integrados o que é que aconteceria? Não deixaríamos de falar português, não deixaríamos de escrever na nossa língua e certamente com dez milhões de habitantes teríamos tudo a ganhar em desenvolvimento nesse tipo de aproximação e de integração territorial, administrativa e estrutural. Quanto à queixa que tantas vezes ouço sobre a economia espanhola estar a ocupar Portugal, não me lembro de alguma vez termos reclamado de outras economias como as dos Estados Unidos ou da Inglaterra, que também ocuparam o país. Ninguém se queixou, mas como desta vez é o castelhano que vencemos em Aljubarrota que vem por aí com empresas em vez de armas...
P - Seria, então, mais uma província de Espanha?
R - Seria isso. Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla la Mancha e tínhamos Portugal. Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar. O Ceilão não se chama agora Sri Lanka, muitos países da Ásia mudaram de nome e a União Soviética não passou a Federação Russa?Mas algumas das províncias espanholas também querem ser independentes!A única independência real que se pede é a do País Basco e mesmo assim ninguém acredita.
P - E os portugueses aceitariam a integração?
R - Acho que sim, desde que isso fosse explicado, não é uma cedência nem acabar com um país, continuaria de outra maneira. Repito que não se deixaria de falar, de pensar e sentir em português. Seríamos aqui aquilo que os catalães querem ser e estão a ser na Catalunha.
P E como é que seria esse governo da Ibéria?
R - Não iríamos ser governados por espanhóis, haveria representantes dos partidos de ambos os países, que teriam representação num parlamento único com todas as forças políticas da Ibéria, e tal como em Espanha, onde cada autonomia tem o seu parlamento próprio, nós também o teríamos.