07 junho 2010
Historiadores e leitores
Caro Maia Costa, não tenho dúvidas em concordar que a afirmação transcrita de Vasco Pulido Valente se apresenta simplista e redutora, mas relativizo a sua importância, pois encontro na frase mais o comentador / provocador do que o historiador. Este último, no Poder e o Povo, editado pela primeira vez em 1976, sustenta de forma mais exaustiva a tese, então relativamente original, de que «na luta pelo poder, o PRP destruíra o genuíno liberalismo da Monarquia» – livro que me parece fundamental para compreender a Iª República, tal como a A “República Velha” (1910-1917), publicado em 1997, mesmo que não se acompanhe as asserções conclusivas que pontuam várias partes dessas obras.
Por outro lado, no artigo que suscitou o texto de VPV aparecem escritas várias opiniões sobre a abordagem de Rui Ramos ao Estado Novo (cuja caracterização formulada por Manuel Lucena no sentido de que se trata de uma boa «introdução a uma época» acompanho, para o bem e para o mal) de historiadores encartados que, a serem deslocadas da polémica e a serem lidas como expressão da densidade e rigor conceptual dos mesmos (conclusão que não me parece que deva ser extraída dessas frases, dada a intensidade do debate e a dimensão jornaleira dos prós e contras envolventes do artigo) me pareceriam muito mais significativas sobre uma condição deprimente da nossa historiografia contemporânea, nomeadamente:
«Creio que, neste momento, os historiadores de esquerda, que sempre foram acusados de instrumentalizar, são mais cuidadosos a trabalhar […]»
«Parece que o Estado Novo é benévolo, não fascista, apenas autoritário, o que é uma leitura desculpabilizante do regime».
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