13 outubro 2010

 

Eça e a Espanha





Eça de Queirós é, como se sabe, o escritor sempre à mão para uma citação oportuna, devido à sua permanente actualidade. Uma actualidade tão flagrante, que a "Ómega" vai associar-se a uma homenagem ao «autor irreverente e sagaz que marcou para sempre a literatura com uma produção única e uma visão da sociedade que se mantém particularmente actual» com uma edição limitada de 45 peças que lhe é dedicada.
Esta actualidade de Eça, que a prestigiada marca de relógios reconhece com a precisão infalível dos mecanismos que fabrica, talvez não nos seja muito lisonjeira. É que essa actualidade parece remeter para o nosso eterno marasmo, como se o país vivesse parado no tempo.
Por sinal, folheando ao acaso o livro de Maria Filomena Mónica Eça de Queirós, publicado pela Quetzal em 2001, vim a dar com uma passagem por mim sublinhada, que diz o seguinte: «Não há já a contar com coisa alguma nesta nossa terra, a não ser que ela deixe de ser nossa e que a passemos aos espanhóis para lhe infiltrar sangue novo.»
Isto escreveu Eça a sua mulher Emília de Castro, numa ocasião em que se encontrava em Portugal, permanecendo ela em Paris.
Também com a crise que nos está a custar os olhos da cara muitos compatriotas exprimiram ideia similar (talvez de uma forma menos agressiva e sem aquela conotação de cedência ou transferência para outro domínio), tornando-se iberistas (ou pelo menos aceitando uma ligação aos povos ibéricos que formam a Espanha) como remédio para os nossos males. O pior é que a Espanha também está submetida a prova de fogo e faz parte, connosco, do grupo pouco recomendado denominado de OS PIIGS. De qualquer forma, dentro dos PIIGS, é menos PIG do que nós.





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