01 novembro 2010

 

"Justiça: reflexões fora do lugar-comum" de António Henriques Gaspar

Se há sector da vida social em que o debate público se encontra completamente contaminado pela ignorância e pelo baixo nível intelectual (para não dizer ético) é certamente o da justiça.
O discurso mediático não ultrapassa a mais tosca "cassete", diariamente passada e repassada à exaustão, variando apenas o "escândalo" a explorar.
O discurso político, geralmente capturado por militantes exaltados de um jacobinismo antijudicial primário, aproveita todas as oportunidades para deslegitimar politicamente o poder judicial.
O discurso dito científico limita-se agora a indagar a "percepção" dos "cidadãos" apanhados na rua à pressa sobre a qualidade do "serviço justiça", recolhendo a resposta já programada.
É uma lástima completa este debate sobre a justiça, limitado à reprodução de lugares comuns que, de repetidos intensivamente, se tornaram verdades incontestáveis e imutáveis.
Lutar contra lugares-comuns, contra "verdades" consolidadas por acumulação de sedimentos, não é fácil.
Porém, foi isso que tentou António Henriques Gaspar, vice-presidente do STJ, e membro deste blogue com "mandato suspenso", com o livro "Justiça: reflexões fora do lugar-comum", editado pela Coimbra Editora. É uma colectânea de intervenções públicas, umas institucionais, outras apresentadas em fóruns científicos, todas elas revestidas de um rigor, um nível e uma honestidades intelectuais que contrastam com a indigência intelectual e ética dos oficiantes habituais na matéria. Aborda os temas actuais com que a justiça se confronta, a nível nacional e europeu.
E fá-lo de uma perspectiva cívica, como contribuição para um debate público sério e responsável.
Este é o livro de alguém que, situado no coração do "sistema", publicamente propõe e critica ideias, confiante de que esse é o caminho para lutar contra a obscuridade e a irracionalidade que o lugar-comum constitui.
O desafio que lança terá resposta ao mesmo nível?





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