14 dezembro 2010

 

Não há dinheiro nem para uma bica

Há empresas que, antecipando a distribuição de dividendos, arrecadaram milhões que deviam ir para o fisco. Os partidos do bloco central, mais o CDS, apadrinharam esta manobra. Entretanto, prepara-se mais uma "flexibilização" da legislação laboral, destinada, entre outras coisas, a faciliar os despedimentos de trabalhadores e a facilitar a vida das empresas. Por outro lado, o prometido aumento do salário mínimo parece que vai ficar em banho-maria por vários anos, segundo as pretensões dos empresários da CIP, os quais não terão, na versão de Manuel António Pina, dinheiro nem para pagar uma bica aos trabalhadores.
Eis o texto de Manuel António Pina, publicado hoje no JN:


Uma moedinha para a CIP
A "crise" tem constituído para os patrões portugueses uma verdadeira, como por esses lados se diz, "janela de oportunidades". Para investirem e inovarem?, para racionalizarem processos produtivos?, para diversificarem?, para descobrirem novos mercados? Não. A crise tem servido aos patrões portugueses de pretexto para despedimentos em massa e, à portuguesa maneira que é a sua, para a pedinchice lamurienta à porta do Estado enquanto clamam ruidosamente por "menos Estado".
Que despedir é difícil, que fica caro, que pagam muitos impostos, que os custos do crédito e da energia são incomportáveis, & etc.; e que, assim, precisam de mais apoios, de mais subsídios, de mais isenções, de mais bonificações, e de mais todas as formas de ir ao bolso dos contribuintes em que o seu mendicante espírito de iniciativa sempre se revelou, nisso sim, extraordinariamente produtivo.
Agora a crise é também pretexto para não cumprirem o que haviam acordado na Concertação Social, o aumento do Salário Mínimo Nacional de 475 para 500 euros em Janeiro de 2011. Diz (melhor, choraminga) o presidente da CIP que as empresas não têm "condições" para pagar um aumento de 25 euros, isto é, de 82 cêntimos por dia.
Se o patronato da CIP não tem "condições" para suportar o custo de algo como uma bica por dia, estamos falados não só quanto a miserabilismo mas também quanto ao que o país pode esperar da indústria portuguesa.
Manuel António Pina





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