13 maio 2012
Uma pequenina luz bruxuleante
Este é um daqueles poemas que me acompanharam a vida desde que o li a primeira vez nas "Líricas Portuguesas", 3ª série, que comprei em 1964.
"Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta...".
Não será dos melhores poemas de Jorge de Sena, mas aquele adjetivo "bruxuleante" tem um encantamento especial que irradia como uma luz, pequenina mas intensa, que não se extingue:
"Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exatidão como a firmeza
como a justiça."
Uma luz inesquecível...
Pois agora, lendo "Uma luz ao longe" de Aquilino Ribeiro, romance de 1948 (o poema é de 1950) encontro as seguintes palavras:
"Havia encontrado o meu símbolo. Aquela luzinha, assim flébil e celestial, ficou-me com efeito de emblema na vida. Nas horas de maior negrume, quando era para desesperar de todo, surgia-me imprevistamente no báratro do cuidados. Pequenina, bruxuleante, vinda de longe, crescia, e iluminava-me o caminho. Filha da própria ralé, providência de infelizes e aflitos, nunca por nunca deixou de raiar. Creio que ela existe igualmente para todos os humanos, e não deve ser outro o fanal que os guiou através das convulsões físicas e sociais do mundo. A questão para o indivíduo é ter olhos que a descubram."
Uma luz que passou de um romancista para um poeta e manteve claridade. Onde estará ela agora? Diz Aquilino que o que é preciso é ter olhos para a descobrir...