03 agosto 2015

 

Os três pilares da social-democracia

Questionada sobre o programa eleitoral do PSD/CDS, na sua última entrevista na TVI 25 (dia 30 de Julho), Manuela Ferreira Leite disse que o mesmo não obedece a uma matriz social-democrata. Caracterizando-se a social-democracia por um investimento na função social do Estado em três pilares fundamentais – saúde, educação e segurança social – a ex-ministra do PSD especificou que, nessas três áreas, o programa apresentado  vai no sentido de uma progressiva menorização do papel do Estado e na crescente relevância do sector privado. Assim na saúde, onde a tendência da coligação será para tornar o papel do Estado residual, com a consequente bifurcação dessa área num serviço público, depauperado, para as pessoas de menores rendimentos e num sector privado, cada vez mais sofisticado, para as pessoas de melhores posses.
Também no sector do ensino, nos termos desse programa, o papel do Estado ficará confinado, a la longue, a um ensino público de menor qualidade, enquanto que o ensino privado ganhará maior projecção, isto ainda que se possa dizer que o sector privado também pode desempenhar  funções que ao Estado pertence assegurar. O certo é que ao Estado incumbe, na perspectiva social-democrata, assegurar um serviço público de ensino, para todos, e de excelência.
No capítulo da segurança social, é por demais evidente que o programa do PSD/CDS  visa criar o chamado “plafonamento”, ou seja, definir um tecto máximo de contribuições para o sistema público e, daí para cima,  dar a opção ao trabalhador para continuar a descontar para a segurança social ou subscrever um seguro privado. Portanto, o Estado pagaria apenas as pensões mais baixas, relegando para o sistema privado os que têm melhores rendimentos.  
Tudo isto – redução do papel do Estado na saúde, na educação e na segurança social – com degradação dos serviços públicos em todas essas áreas, reconduziria o Estado para uma função meramente assistencialista.

Quem o diz é uma pessoa que foi figura de proa do PSD e que se reclama de uma formação social-democrata, a qual deve ser para o actual PSD uma espécie de língua morta. Mesmo entre gente do PS, poucos terão um tal espírito crítico, confinados a uma discussão de carácter quantitativo (mais desta medida ou menos daquela, mais ou menos tempo para a chamada reposição dos salários ou devolução da sobretaxa, etc.),  que não de qualidade ou de posição alternativa. Veja-se, por exemplo, o desassombro de Manuela Ferreira Leite a criticar o Tratado Orçamental, que o PS assinou e em relação ao qual não toma posição clara, limitando-se a falar numa adaptação criativa ao longo do tempo.  





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