14 julho 2015
O sonho desfeito no acordar da Grécia?
Claro que o acordo a que chegaram os representantes
do governo grego e as instituições europeias é a negação do referendo de há uma
semana atrás, como salienta Maia Costa no seu texto. É um verdadeiro contrato
leonino. Pior do que isso: uma humilhação, o cair de rojo do touro ante a
estocada fatal. Até o nosso presidente da República salientou a enorme
dificuldade para os gregos em solverem os compromissos a que os vincularam os
negociadores, pondo em destaque a sanguinária exigência de terem de adoptar
medidas tão duras, no plano legislativo, no curtíssimo prazo de 48 horas.
Só que o presidente quis tirar
daí uma ilação política de evidente propaganda eleitoral para o caso português,
atribuindo a um erro de estratégia do governo actual da Grécia a situação de
descalabro a que se chegou, assim rasurando toda a política de fracasso dos
anteriores governos gregos e o falhanço das políticas aplicadas até então. Sim,
porque há nisto uma evidente luta ideológica, com triunfo da linha que se tem
afirmado como dominante no seio das instituições europeias e, em particular do
Eurogrupo, que, na imagem ajustada do ex-ministro Varoufakis, parece uma
orquestra regida pelo ministro das finanças alemão – a linha que,
insistentemente, ferozmente, diz que não há alternativa para o caminho que tem
sido trilhado. Não só para exemplo dos gregos, como também para os portugueses,
os espanhóis, os italianos, etc. Não tentem contrariar as políticas que nós
entendemos como as únicas correctas, ouviram? De contrário, lixam-se.
Como é que os representantes do
governo grego assumiram tais compromissos impossíveis, depois de terem levado o
país, em transe dramático, a um referendo com tão expressivo resultado?
A meu ver (e esse será o único
tentame de desculpabilização), porque confiaram numa mudança do estado de coisas,
com a possibilidade próxima de alteração política em Portugal e Espanha e o
reforço que daí advirá para uma corrente alternativa no seio da própria União,
e porque confiaram na tão reclamada reestruturação da dívida, pois até o FMI a
tem defendido e ainda hoje veio dizer que a Grécia precisa de uma carência de
30 anos (isto é, de não efectuar pagamentos durante esse período de tempo), convertendo-se, assim (o FMI) numa
espécie de oposição no seio das instituições representativas dos credores.
Deste modo, a Grécia ir-se-ia mantendo no euro, até que melhores dias viessem.
Mas este raciocínio, a ser imputado ao Syriza, terá no próximo futuro alguma
viabilidade, antes que a Grécia sucumba novamente, como é de crer que sucumba,
se as coisas se não modificarem entretanto e se as instituições políticas
gregas, a começar pelo próprio governo, se não desagregarem por efeito do acordo?