08 fevereiro 2016
Os novos indignados
Eis
que, arvorando-se em defensores da classe média, se insurgem contra as recentes
medidas orçamentais, fruto dos ajustamentos exigidos por Bruxelas, aqueles
mesmos que, desapiedadamente, a levaram à ruína, lançando parte dela na pobreza.
É preciso desfaçatez!
Também
não se cansam de gritar a sua indignação contra o aumento de impostos,
esquecendo que a mais brutal carga tributária desde o “25 de Abril”, onerando
principalmente a tal classe média e os trabalhadores por conta de outrem, foram
eles mesmos que a implementaram, ao mesmo tempo que cortaram vencimentos e
pensões de reforma, eliminaram ou comprimiram até ao máximo prestações sociais,
aumentaram as rendas de casa e as taxas moderadoras dos serviços de saúde,
restringiram o acesso ao ensino dos filhos das classes mais débeis e por aí
fora.
O
que é que queriam estes indignados? Que se continuasse a cortar nos vencimentos
e pensões de reforma? E este aumento de impostos será assim motivo para tanto
alarme, quando é sabido que se o vai buscar aos produtos petrolíferos (gasóleo
e gasolina), à razão de seis cêntimos por litro, sendo certo que estes
produtos, como lembrou um professor do Instituto Superior de Economia e Gestão
(ISEG), baixaram vinte cêntimos e, portanto, o imposto é absorvido nessa baixa?,
quando se sabe que os outros produtos onerados são o tabaco e o álcool, que vão subir o imposto sobre
veículos, o imposto de selo e as contribuições dos bancos por certas operações
financeiras?
Será
ainda preciso lembrar que os vencimentos e pensões cortados vão ser repostos,
as prestações sociais, idem, a contribuição especial de solidariedade vai ser
revertida, a sobretaxa de IRS, reduzida até desaparecer, o IVA da restauração
vai, finalmente, ser reduzido, com excepção de alguns produtos menos
essenciais, as taxas moderadoras pelos serviços de saúde vão baixar? Isto não
conta? Que queriam então estes vociferadores?
Uma
última palavra para a comunicação social. Grande parte dos “media” tem feito
coro com o “alarmismo” que grassa pelas hostes destes indignados, enchendo as
primeiras páginas com grandes parangonas que agigantam o aumento de impostos,
ou abrindo os telejornais com a mesma alvoroçada chamada de atenção. É preciso
alguma contenção em nome da objectividade e do rigor informativos. Não é só
causar sensação.
PS - Só agora, ao introduzir este "post", é que vi que o Maia Costa tinha aflorado o mesmo assunto e, por isso, é natural que, em alguma coisa haja coincidência. Porém, ambos os textos, apesar disso, são bastabte distintos.