25 janeiro 2016
Uma obra-prima
Estou convencido que o maior
facto político parturejado pelo criador de factos políticos foi o da sua
eleição a presidente da República. Andou anos a forjar esse facto na arena da
comunicação social, convertendo-se ele próprio numa estrela mediática de primeira
grandeza, a ponto de poder dispensar outros apoios, que não o da popularidade que
foi granjeando e, claro, o da cumplicidade dos media, de que era um dos actores de maior saliência no seu campo de
intervenção.
Evidentemente que teve de ter
arte e talento para impor essa imagem. E foi de acordo com ela – com essa
imagem de popularidade – que agiu na campanha, dispensando séquitos partidários
e tradicionais formas de publicidade e, até, aparentemente, ideologia, quando
toda a sua mise-en-scène não deixou
de ser ideológica do princípio ao fim, apresentando-se como transversal ao
eleitorado, acima dos partidos e de
divisões esquerda-direita, sobrenadando a antagonismos sociais, privilegiando
contactos informais e gestos abrangentes de simpatia a qualquer debate de ideias, enfim,
transmitindo uma ideia de portugalidade de certo modo etérea. Nada de mais
refinadamente ideológico do que isso.
Mas o que é certo é que Marcelo teve
uma percepção inteligente desse jogo de popularidade e pode-se bem dizer que
esta foi a sua obra-prima.