04 outubro 2017
O discurso de Filipe VI
O
rei de Espanha demorou tempo a reagir. Dir-se-ia que teve o tempo
suficiente para amadurecer a sua posição e exercer o seu poder
moderador com régio equilíbrio. Afinal, saiu-se de uma forma
desastrada, desequilibrando ainda mais os pratos da balança. Falando
grosso, acusou o governo da Catalunha de “deslealdade
inadmissível”. Falou da unidade de Espanha, mas utilizando uma
linguagem de desunião e fornecendo mais argumentos para o
separatismo. Sobre a violência “inadmissível” da Polícia
Nacional e da Guardia Civil, nem uma palavra.
Os
milhares de catalães que o seguiram pela televisão (e, certamente,
não só estes) ficaram desiludidos. Alguns, que nem eram pela
independência da Catalunha, segundo declararam, mas que se
encontravam entre os manifestantes por causa da referida violência
policial, manifestaram o seu desapontamento: “Afinal, só há culpa
dos catalães?...”, interrogavam-se, perplexos. “O rei devia era
ter apelado ao consenso entre os políticos, os de cá e os de
Madrid…», diziam. Esperavam, com razão, que o rei tivesse mais
equanimidade e bom senso. Mas os reis, como se sabe, já não são
assistidos por uma sageza que lhes vinha
do sangue que lhes corria
nas veias.