28 setembro 2017
A Catalunha e os portugueses
O que está a passar-se na Catalunha mostra a matriz franquista da direita espanhola, que não consegue esconder quando precisa de garantir a Espanha "Una, grande y libre", como Franco a proclamava. Incapaz de dialogar com os catalães, mesmo com os que pretendem apenas o diálogo, Rajoy recorre a uma via que se mostrará a prazo suicida: a da repressão policial, a da criminalização do direito à autodeterminação. Será que ele e a direita espanhola acreditam que a repressão vai calar o sentimento soberanista avassalador que percorre a Catalunha? Acreditarão que, sem uma ditadura (e mesmo com ela, já que Franco não "resolveu o problema"), esmagarão esse sentimento?
A "Europa", já se sabe, não gosta de modificações no "seu" mapa. Países novos só lá para leste, aí, sim, com todo o gosto se fragmenta a Jugoslávia, primeiro, depois, a Sérvia... Derrubam-se os "maus" na Ucrânia, mesmo com risco de mais fragmentações... A "Europa" tem um conceito "à la carte" do direito à autodeterminação dos povos, de acordo com os seus interesses.
Note-se que o nacionalismo catalão nada tem de oportunista ou de acidental. A Catalunha é efetivamente uma nação, com língua, cultura (literatura, arquitetura, pintura e outras artes e outros domínios de expressão cultural), enfim toda uma identidade que remonta à Idade Média, à mesma época em que se formaram as identidades castelhana e galego-portuguesa, esta última só mais tarde cindida... A Catalunha "fundiu-se" com Castela por via conjugal em 1492, mas manteve essa identidade própria. Procurou reaver a independência em meados do sec. XVII, na mesma época em que Portugal também lutava no mesmo sentido, e foi certamente a incapacidade de Castela manter duas frentes de guerra que viabilizou a independência portuguesa. Mas o sentimento autonomista manteve-se sempre, particularmente forte durante a República de 1931-1936, e foi a grande bandeira de luta da Catalunha durante a guerra civil, tendo pago por isso um preço muito elevado durante a ditadura franquista.
Querer comparar o caso da Catalunha ao da Flandres, ou ao da "Padânia" é demonstrar a maior ignorância da história.
E que dizer dos portugueses? Aqui parece, neste cantinho da península, que não se sabe de nada do que se passa do outro lado da mesma... Nos últimos dias alguns comentários, a grande maioria contra o referendo!
O governo português cala-se. Talvez seja uma atitude "sábia", no pior sentido da palavra. Os partidos políticos, mesmo os de esquerda, estão muito ocupados com a campanha eleitoral das autárquicas, ainda não deram conta do que se passa em Barcelona, nem sequer das prisões de altos funcionários governamentais da Catalunha... Até onde e quando irá o silêncio?
Servirá de alguma coisa lembrar o nº 3 do art. 7º da nossa Constituição? Ei-lo: "Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão."
A "Europa", já se sabe, não gosta de modificações no "seu" mapa. Países novos só lá para leste, aí, sim, com todo o gosto se fragmenta a Jugoslávia, primeiro, depois, a Sérvia... Derrubam-se os "maus" na Ucrânia, mesmo com risco de mais fragmentações... A "Europa" tem um conceito "à la carte" do direito à autodeterminação dos povos, de acordo com os seus interesses.
Note-se que o nacionalismo catalão nada tem de oportunista ou de acidental. A Catalunha é efetivamente uma nação, com língua, cultura (literatura, arquitetura, pintura e outras artes e outros domínios de expressão cultural), enfim toda uma identidade que remonta à Idade Média, à mesma época em que se formaram as identidades castelhana e galego-portuguesa, esta última só mais tarde cindida... A Catalunha "fundiu-se" com Castela por via conjugal em 1492, mas manteve essa identidade própria. Procurou reaver a independência em meados do sec. XVII, na mesma época em que Portugal também lutava no mesmo sentido, e foi certamente a incapacidade de Castela manter duas frentes de guerra que viabilizou a independência portuguesa. Mas o sentimento autonomista manteve-se sempre, particularmente forte durante a República de 1931-1936, e foi a grande bandeira de luta da Catalunha durante a guerra civil, tendo pago por isso um preço muito elevado durante a ditadura franquista.
Querer comparar o caso da Catalunha ao da Flandres, ou ao da "Padânia" é demonstrar a maior ignorância da história.
E que dizer dos portugueses? Aqui parece, neste cantinho da península, que não se sabe de nada do que se passa do outro lado da mesma... Nos últimos dias alguns comentários, a grande maioria contra o referendo!
O governo português cala-se. Talvez seja uma atitude "sábia", no pior sentido da palavra. Os partidos políticos, mesmo os de esquerda, estão muito ocupados com a campanha eleitoral das autárquicas, ainda não deram conta do que se passa em Barcelona, nem sequer das prisões de altos funcionários governamentais da Catalunha... Até onde e quando irá o silêncio?
Servirá de alguma coisa lembrar o nº 3 do art. 7º da nossa Constituição? Ei-lo: "Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão."