07 outubro 2006
Ainda o editorial do Público
Há dias, escrevi sobre um editorial do Director do «Público» («Editorial modelar», assim lhe chamei) que causou bastante polémica. Nesse artigo que publiquei no blogue sustentei que escritos desse teor não estão cobertos pela liberdade de imprensa nem pela deontologia dos jornalistas. Acontece que, no Jornal de Notícias de ontem, 5 de Outubro, Manuel António Pina bateu a mesma tecla, de uma forma ainda mais contundente do que a minha. Eis o seu escrito:
Nem o cabelo escapa…
Um director de jornal "de cuyo nombre no quiero acordarme" publicou um dia destes um editorial que fica, já que leva um título de conotações borgianas, para a "História Universal da Infâmia" do jornalismo português. O que aí se diz, bem interpretado, é que o recém-eleito presidente do Supremo comprou os votos dos seus pares através de "promiscuidades", "favores" e "empenhos". Noronha Nascimento é chamado de "maquiavélico", "subversor do regime", "habilidoso", "perigoso". Nem o cabelo escapa, pois "a sua melena é algo desgrenhada" (desculpável já será dá-lo como "terceira figura do Estado", porque aí há apenas ignorância). O assunto acabará decerto nos tribunais criminais, pois de caso de polícia se trata. Mas é um sintoma perturbador de algum jornalismo que por aí se faz confundindo crítica com difamação e injúria. Os jornais estão igualmente cheios de gente que não se inibe de perorar sobre Direito e Justiça sem nunca ter lido um código ou entrado num tribunal, a não ser, como o famoso juiz Roy Bean, enquanto arguido. Ora as opiniões, ensina Pound, são como os cheques a sua seriedade depende da cobertura que tiverem. O problema é que a cobertura, já não digo intelectual, mas ao menos moral, de tais "opinion makers" é igual a zero.
Nem o cabelo escapa…
Um director de jornal "de cuyo nombre no quiero acordarme" publicou um dia destes um editorial que fica, já que leva um título de conotações borgianas, para a "História Universal da Infâmia" do jornalismo português. O que aí se diz, bem interpretado, é que o recém-eleito presidente do Supremo comprou os votos dos seus pares através de "promiscuidades", "favores" e "empenhos". Noronha Nascimento é chamado de "maquiavélico", "subversor do regime", "habilidoso", "perigoso". Nem o cabelo escapa, pois "a sua melena é algo desgrenhada" (desculpável já será dá-lo como "terceira figura do Estado", porque aí há apenas ignorância). O assunto acabará decerto nos tribunais criminais, pois de caso de polícia se trata. Mas é um sintoma perturbador de algum jornalismo que por aí se faz confundindo crítica com difamação e injúria. Os jornais estão igualmente cheios de gente que não se inibe de perorar sobre Direito e Justiça sem nunca ter lido um código ou entrado num tribunal, a não ser, como o famoso juiz Roy Bean, enquanto arguido. Ora as opiniões, ensina Pound, são como os cheques a sua seriedade depende da cobertura que tiverem. O problema é que a cobertura, já não digo intelectual, mas ao menos moral, de tais "opinion makers" é igual a zero.