02 maio 2007
O 1.º de Maio
Ontem foi o 1.º de Maio, dia dos trabalhadores. Mas que trabalhadores?, interrogo-me. Dizem que as classes sociais sofreram uma grande recomposição, que já não há trabalhadores propriamente ditos, ao menos no sentido de uma classe social que luta pelos seus direitos contra uma ordem social estruturada na exploração da força de trabalho. E assim como não há trabalhadores explorados, também não existe uma classe social exploradora. O que há é empregadores e empregados, sendo que os ditos trabalhadores deixaram de sonhar (ou de lutar) pela sua emancipação, emburguesados como estão nas suas aspirações e estilos de vida.
Aliás, os direitos adquiridos estão em franco retrocesso. Os direitos adquiridos significam a estabilidade, a segurança, a rigidez, o conformismo – tudo valores bolorentos de épocas recuadas que se opõem ao progresso. E não há direitos a conquistar duradouramente, numa sociedade que tem de ser estruturada no risco, na insegurança, na instabilidade permanente, na mobilidade total, desde que esse risco, essa insegurança, essa instabilidade e essa mobilidade não ponham em causa, evidentemente, os necessários pressupostos da ordem e da paz social, numa comunidade de homens livres.
Hoje, todos estão no mesmo barco, trabalhadores de uma forma ou de outra, seja como empregados, seja como empregadores. Todos têm o seu papel, numa sociedade globalizada, de voraz competição internacional, dominada pelo risco e pela mudança. Claro que há os desempregados, os imigrantes, os excluídos, mas até esses servem, afinal, para mostrar, por contraponto, o luxo da invocação de direitos. Ao pé desses, os que gozam de alguns direitos e benefícios são uns felizardos ou uns privilegiados. Portanto, agora, não se trata de conquistar, nem sequer de conservar direitos, mas de abdicar deles. Por isso, o 1.º de Maio não faz sentido.
Há anos atrás e, entre nós, nos primeiros anos a seguir ao “25 de Abril”, havia a tendência para incluir no grupo dos trabalhadores vastas camadas sociais, que iam desde os genuínos operários (o proletariado urbano e rural) aos camponeses e aos trabalhadores mais variados da função pública, desde o mais modesto oficial ao professor universitário. Eram todos trabalhadores que tinham o direito de reivindicar melhores condições de vida contra a classe que tinha o domínio económico e de cuja dominação emanava o poder político, que também oprimia, mesmo em sociedades democráticas. Até os magistrados tinham pacificamente o seu direito à organização sindical, com o correlativo direito à greve, defendido por teóricos progressistas, que hoje pregam o contrário.
Agora, passou-se para o pólo oposto. Não só os sindicatos operários perderam toda a legitimidade, pela razão de que não há verdadeiramente operários no sentido clássico do termo (os velhos operários explorados por uma classe capitalista), como também as outras camadas de trabalhadores, nomeadamente os funcionários públicos, são classes ou grupos privilegiados e não verdadeiros trabalhadores, cujas reivindicações e greves se tornaram odiosas, sendo os seus sindicatos meras organizações de defesa de privilégios e, por isso, corporações a abater.
Onde estão, pois, nesta perspectiva do moderno progressismo, os trabalhadores do 1.º de Maio? O próprio primeiro de Maio justificar-se-á como dia feriado?
Aliás, os direitos adquiridos estão em franco retrocesso. Os direitos adquiridos significam a estabilidade, a segurança, a rigidez, o conformismo – tudo valores bolorentos de épocas recuadas que se opõem ao progresso. E não há direitos a conquistar duradouramente, numa sociedade que tem de ser estruturada no risco, na insegurança, na instabilidade permanente, na mobilidade total, desde que esse risco, essa insegurança, essa instabilidade e essa mobilidade não ponham em causa, evidentemente, os necessários pressupostos da ordem e da paz social, numa comunidade de homens livres.
Hoje, todos estão no mesmo barco, trabalhadores de uma forma ou de outra, seja como empregados, seja como empregadores. Todos têm o seu papel, numa sociedade globalizada, de voraz competição internacional, dominada pelo risco e pela mudança. Claro que há os desempregados, os imigrantes, os excluídos, mas até esses servem, afinal, para mostrar, por contraponto, o luxo da invocação de direitos. Ao pé desses, os que gozam de alguns direitos e benefícios são uns felizardos ou uns privilegiados. Portanto, agora, não se trata de conquistar, nem sequer de conservar direitos, mas de abdicar deles. Por isso, o 1.º de Maio não faz sentido.
Há anos atrás e, entre nós, nos primeiros anos a seguir ao “25 de Abril”, havia a tendência para incluir no grupo dos trabalhadores vastas camadas sociais, que iam desde os genuínos operários (o proletariado urbano e rural) aos camponeses e aos trabalhadores mais variados da função pública, desde o mais modesto oficial ao professor universitário. Eram todos trabalhadores que tinham o direito de reivindicar melhores condições de vida contra a classe que tinha o domínio económico e de cuja dominação emanava o poder político, que também oprimia, mesmo em sociedades democráticas. Até os magistrados tinham pacificamente o seu direito à organização sindical, com o correlativo direito à greve, defendido por teóricos progressistas, que hoje pregam o contrário.
Agora, passou-se para o pólo oposto. Não só os sindicatos operários perderam toda a legitimidade, pela razão de que não há verdadeiramente operários no sentido clássico do termo (os velhos operários explorados por uma classe capitalista), como também as outras camadas de trabalhadores, nomeadamente os funcionários públicos, são classes ou grupos privilegiados e não verdadeiros trabalhadores, cujas reivindicações e greves se tornaram odiosas, sendo os seus sindicatos meras organizações de defesa de privilégios e, por isso, corporações a abater.
Onde estão, pois, nesta perspectiva do moderno progressismo, os trabalhadores do 1.º de Maio? O próprio primeiro de Maio justificar-se-á como dia feriado?