04 junho 2008

 

Breves

1.
Decididamente, estamos em plena era socialista das quotas. Depois das quotas das mulheres, fala-se das quotas para atribuição de notas aos professores e aos funcionários públicos em geral. Não pode haver mais do que X notas de “excelente”, Y de “muitos bons” Z de “bons”, e por aí fora. Isto é o que se chama boa gestão do património das capacidades humanas. Também a ASAE parece que estabeleceu quotas para processos por contra-ordenação, número de condenações, número de apreensões, etc. Um dos nossos mais altos responsáveis também já disse em tempos que o sucesso das investigações criminais dependia da taxa (isto é, da quota) de acusações e das condenações a que elas davam lugar. Assim, o avanço da nossa sociedade parece residir na quotização generalizada.

2.
Parece que a Constituição se designa de “lei fundamental”, porque há muito fundamentalismo à volta da sua interpretação e cada vez mais fundamentalismo nas posições de certos constitucionalistas.

3.
No Parlamento, numa altura de discussão acesa entre Louçã, do Bloco de Esquerda, e o primeiro ministro, por causa do Código de Trabalho, Alberto Martins, a dada altura, numa embrulhada de adjectivos, referiu-se à “linguagem imagética animalesca” do dirigente bloquista. Logo outro dirigente bloquista, Luís Fazenda, ripostou com uma edificante tirada filosófica: “Numa concepção ontológica, animal é todo aquele que tem animação, e nesse sentido o senhor deputado é tão animal como nós”. Ora toma! Talvez por isso, por esse nosso pendor ontológico pelos animais, é que vai por aí um grande surto de jardins zoológicos. Para além do velho Jardim Zoológico de Lisboa, criou-se há anos o Jardim Zoológico da Maia, para que as gentes do Norte pudessem também desfrutar de um recinto onde macacos, chimpanzés, leões, o indispensável elefante e outras espécies de grande e pequeno porte, se exibem, em pungente compressão espacial, à curiosidade imagética animalesca dos indígenas cá do sítio. E, recentemente, para não ficar atrás da Maia, abriu-se (segundo me dizem) um outro jardim zoológico lá para os lados de Gaia, isto é a sul do Douro. Por este andar, não haverá autarquia que não tenha o seu merecido jardim zoológico, nem político que não goste de exibir a sua animação, ontologicamente falando.

4.
Portugal está na cauda dos países que têm o maior fosso entre ricos e pobres. São poucos os que têm muito e muitos os que têm pouco ou mesmo nada. As desigualdades, que era suposto serem aplanadas com a democracia nascida do “25 de Abril” (a democracia simplesmente e não já a democracia social) têm vindo a aumentar.
Confrontado com essa realidade, Sócrates disse que ela se referia ao ano 2004, ou seja, aos últimos tempos de governação do PSD/CDS e que representava a sentença de condenação desse governo, com trânsito em julgado. O problema é que o fosso persiste e, por isso, Mário Soares, com a veneranda autoridade que se lhe reconhece, apelou a um recurso extraordinário de revisão de sentença, para que o PS e os seus responsáveis façam “uma reflexão profunda sobre as questões que hoje nos afligem mais: a pobreza; as desigualdades sociais; o descontentamento das classes médias e as questões prioritárias com elas relacionadas, como: a saúde, a educação, o desemprego, a previdência social, o trabalho”. E lembrou que “urge, igualmente, fortalecer o Estado, para os tempos que aí vêm e não entregar a riqueza aos privados”. Se assim não for, sentenciou Soares que “o PCP e o Bloco de Esquerda – e os seus líderes – continuarão a subir nas sondagens”. Ele lá sabe do que fala e voltou a dizer que “Quem vos avisa vosso amigo é.”





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