17 maio 2008

 

Eventos históricos ou nem isso

1.

Tenho vindo paulatinamente a absorver as lições de social-democracia ministradas semanalmente, no “Público”, pelo Prof. Vital Moreira. Quarenta anos depois da irrupção do" "Maio de 68" e trinta e quatro anos depois do "25 de Abril", a social-democracia já não mete medo a ninguém. Já não é o social-fascismo, segundo a expressão cunhada por Stalin e que mais tarde os maoistas, por outro desvio ideológico, viriam a utilizar copiosamente para designar a política seguida pelo partido onde então militava Vital Moreira – partido que se assumia, como ainda agora se assume, creio, como herdeiro das mais lídimas tradições leninistas. A social-democracia já não é o papão de outrora, mas a meta sensatamente ambicionada por muitos dos mais aguerridos revolucionários que se converteram à esquerda realista e do possível.

 

2.

Por falar no "Maio de 68", ficou para a História aquela célebre palavra de ordem: “Sede realistas: pedi o impossível!”  Por sinal, essa marca do desmedido de uma geração foi a montanha que pariu um rato. Os principais protagonistas da insurreição que virou Paris de pernas par o ar e assustou muitos guardiães da ordem estabelecida por essa Europa fora, são hoje gente pacata, ordeira, muito modesta nas ambições e muito conformada com a situação de refluxo e de agressividade capitalista que se vive por esse mundo fora. Os mais avançados deles ficam-se, modesta e sensatamente, pela social-democracia. Alguns até dizem que Sarkozi, o presidente que fez uma declaração contra Maio de 68, foi o mais genuíno herdeiro da insurreição que abalou Paris. Veja-se André Gluksman, o filósofo,  que apoiou a candidatura de Sarkozi e que afirmou recentemente que, se não fosse Maio de 68, a França nunca teria eleito o actual habitante do Eliseu. Sarkozi, mesmo incosncientemente, encarna à perfeição o espírito de Maio de 68. Ora vejam! O desejo do impossível tornou-se realidade mesquinha e mesmo grotesca.

 

 

3.

Por cá, a grande “manchete” da semana foi Sócrates ter fumado no avião fretado que o levou à Venezuela. Houve uma grande onda de indignação pelo país, fomentada pelos sempre vigilantes profissionais da comunicação social. Falaram constitucionalistas da estirpe de Vital Moreira e de Jorge Miranda “naturalmente” contra, e a oposição viu aí o pretexto para defender uma grande causa: o primeiro-ministro deve ser multado exemplarmente. Sócrates, rendido, pediu desculpa ao país e prometeu deixar de fumar. Um acto de contrição muito cristão. Todavia, recalcitrou, dizendo que era contra o “calvinismo moralista radical”. O mesmo calvinismo moralista, afinal, que ditou a lei que o seu governo propôs e o Parlamento aprovou. Ah grande país da hipocrisia!   






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