01 janeiro 2009

 

Carta ao Senhor Blogue

Senhor Blogue:

Que tenho para lhe dizer neste início do ano? Pensando bem, nada de novo. O ano é ainda uma criança, não é? Nem um dia completo tem. Nasceu há umas escassas horas, no meio do tradicional arruído, com foguetório, rolhas de espumante a saltar das garrafas com estrépito, vozearia nas ruas, pessoas a bailar de contentes para festejarem o escorraçamento do ano velho, que se finou com os seus 365 dias, cansado de tanta peripécia, de tantos acidentes, de tantas lutas, de tantos morticínios gratuitos, de tantas vítimas inocentes, de tantas guerras, de tanta trapaça, de tanta miséria espalhada por quem se quis governar à tripa forra. Parece impossível como tudo isso coube nesses 365 dias. O ano de 2008 morreu farto de tanto desvario, de tanta irracionalidade, de tanta estupidez.
Também atravessei a fronteira para o dito novo ano erguendo um brinde ao seu aparecimento. Deitei-me a dormir já tarde, embalado nas cantilenas que entoavam belos hinos aos meus ouvidos. Porém, quando acordei e liguei o rádio, a única novidade que pude escutar foi a da velhice do ano nascente. Um ano novo com velhas barbas fedorentas, a tresandar à imundície já vista e conhecida. Pensava eu que ia aterrar noutro planeta, mas, afinal, a fronteira que atravessei foi uma falsa fronteira, visto que fiquei exactamente no mesmo lado. Só a página do calendário é que mudou. O resto continua na mesma. Pensando bem, não sei para quê tanto estardalhaço no mudar de ano. Mais vale a pequena alegria de mudar de camisa – uma “Boss” ou uma “Armani”, compradas nos antecipados saldos que já começaram, ainda o ano velho não tinha chegado ao fim, a aparecer nas lojas.
Não compartilha comigo desta pequena felicidade íntima, senhor Blogue?





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