03 novembro 2010
A tanga
A intervenção do PSD, ontem, na Assembleia da República, mostra que este partido leu e assimilou alguns dos textos de humor negro do escritor irlandês Jonathan Swift, pois subverteu em seu proveito, com uma habilidade (dir-se-ia até: perversidade) inigualável alguns dados da política dos últimos anos. Na verdade, essa de deixar passar o orçamento, que tem a mão do próprio PSD, para que Sócrates responda (perante o eleitorado, claro!) pelos seus actos de má gestão e de desgoverno é da mais refinada arteirice. Por outro lado, considerar que a situação em que nos encontramos é da exclusiva responsabilidade do PS só pode ser atribuído à amnésia que costuma atacar os partidos que se revezam no poder. Basta ler o recente livro de Carlos Moreno, juiz do Tribunal de Contas jubilado sobre a forma como o Estado tem gasto o nosso dinheiro nos últimos decénios para se ter uma ideia da responsabilidade dos partidos que nos têm governado. É claro que, quando o PS está no governo, acusa o PSD de ter deixado o país «de tanga»; quando é o PSD a ascender à governação, acusa o PS de ter deixado o país «de tanga», e assim os principais partidos que nos governam há dezenas de anos vão rodando no poder ao som da mesma música: a tanga. Uma música originalíssima inventada para o nosso fado político.
Como escreveu Vasco Pulido Valente no “Público” de sábado passado, este é o dobre a finados de uma política em que têm campeado os dois partidos.
Como escreveu Vasco Pulido Valente no “Público” de sábado passado, este é o dobre a finados de uma política em que têm campeado os dois partidos.