11 fevereiro 2011

 

Egipto: a vitória do povo

Parecia que o fim da história ia ser outro. O tirano resistia, parecia começar o desânimo nas hostes populares. De fora, vinham os tais "votos piedosos" por uma solução "pacífica"... Mas os manifestantes fecharam os punhos, mobilizaram-se para um último esforço e o regime caiu.
O reenconto de um povo com a liberdade e, mais ainda, com a dignidade e com o seu orgulho nacional é sempre emocionante para os verdadeiros democratas. As imagens que nos chegam a toda a hora da praça Tahrir (nunca mais a esqueceremos, como não esquecemos o Largo do Carmo) ficarão gravadas para sempre. É a alegria, a alegria no estado puro, sem malícias, sem sombras, sem medo...
Sabemos que não vai ser sempre assim. O povo egípcio vai ter muito que lutar para que as promessas de hoje não sejam traídas já amanhã... Mas esta festa de hoje ninguém a roubará ao povo egípcio, aos jovens, às mulheres, às famílias, a todos os que lutaram e sofreram, alguns duramente, durante dezenas de anos.
Tudo isto nos lembra o nosso 25 de Abril. Mas os egípcios foram bem mais fortes que nós, portugueses, que só saímos à rua quando os militares já lá estavam... Lá foi ao contrário: os militares só apareceram (e ambiguamente...) quando o povo já estava na rua, arriscando a vida (como é demonstrado pela perda de 300 vidas...) por um futuro melhor.
Os próximos dias serão cruciais e, se tudo não será certamente perdido, nem tudo o sonhado será alcançado. O "Ocidente" já está a manobrar em força. O Egipto é um país "amigo", tem que continuar a ser... (O "Ocidente" é que não é lá muito amigo do Egipto... digo eu...) A margem de manobra popular não é muito grande. Mas as massas populares estão na rua e só uma grande repressão as desmobilizará agora.
E o "contágio" vai certamente continuar... Porque a "doença" começou na Tunísia, não se esqueça. E O Egipto não é a Tunísia, é simplesmente o coração do mundo árabe. Este movimento pode percorrer todo esse mundo, com a possível excepção da Arábia Saudita (por enquanto...). Mas todos os outros países, incluindo o Iraque, estão em "risco". Afinal, os egípcios demonstraram qual a via para a democracia: não é com bombardeamentos americanos, é com o povo nas ruas...





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