08 junho 2011
Jorge Semprún
Fiquei consternado com o anúncio da morte de Jorge Semprún, um homem que viveu intensamente os principais lances dramáticos do século XX, desde o exílio, ainda jovem, por causa da Guerra Civil Espanhola, à militância na Resistência Francesa e à subsequente deportação para a Alemanha, onde foi prisioneiro no campo de concentração de Buchenwald até à libertação, em 1945, pelas Forças Aliadas, passando pela militância no Partido Comunista Espanhol, onde desempenhou relevantes cargos, pela dura prova da clandestinidade e depois pela dissidência, com simpatias pelo trostskismo e, mais tarde, pelo eurocomunismo, numa fase em que a escrita era já a sua grande paixão. Uma paixão tão grande como a paixão de intervir nos acontecimentos, uma e outra nos limites da sobrevivência. Um dos seus livros mais empolgantes chama-se, justamente, A Escrita Ou A Vida, um dos vários em que relata a sua experiência no campo de concentração e que, segundo ele próprio confessou, lhe ia arruinando a vida (a escrita). Daí o título. A Longa Viagem é outro dos livros em que relata essa experiência – uma viagem que se faz (que se lê) de um fôlego, a viagem para o campo, mas em que, ao longo dela, se atravessa um tempo sem fronteiras, um tempo denso, tenso, de pesadelo, em que passado, presente e futuro se amalgamam na convocação dramática da memória, tal como em A Escrita Ou A Vida.
Na Autobiografia de Federico Sanchez, relata a militância comunista e em A Segunda Morte De Ramon Mercader, ajusta contas com a História oficial do comunismo/estalinismo, através de uma longa ficção em que reconstitui o assassinato de León Trotsky, por interposta mão de Estaline, em Coyocan, no México. Sempre numa linguagem cativante, utilizando processos narrativos que surpreendem pela capacidade inventiva.
Um grande homem, um grande escritor, que ostenta as dilacerações em carne viva do personagem que encarnou como poucos os dramas reais (sociais, políticos e ideológicos) do século XX.