13 setembro 2012
O Governo ou o Povo?
Afinal, a avaliar pelo
que aí vai, parece que está toda a gente contra o governo e o seu escasso reduto
de apoiantes.
Manuela Ferreira Leite,
uma militante de peso do partido a que pertence o primeiro-ministro e
ex-governante em representação desse partido, apelou, de uma forma sem
precedentes, a um boicote dos deputados da maioria ao orçamento e a uma
contestação generalizada das medidas de austeridade anunciadas.
Bagão Félix, outro
militante de peso do outro partido da coligação - o CDS – tem farpeado acutilantemente
a obtusidade dessas mesmas medidas, manifestando a sua indignação pela insensibilidade
social demonstrada pelo governo e incitando à revolta contra elas.
Belmiro de Azevedo, que
supostamente iria ser um dos grandes beneficiários da transferência de parte
significativa dos encargos da TSU das entidades patronais para os
trabalhadores, malhou no governo forte e feio.
O presidente da CIP verberou
o governo pelas medidas que tenciona pôr em prática, nomeadamente a questão da
TSU.
Praticamente nenhum
economista com o mínimo de autonomia e independência face ao governo apoia as
referidas medidas, quase todos as achando inconcebíveis e alguns, mesmo
perversas.
As centrais sindicais
parecem entender-se novamente para acções comuns.
O PS ameaça,
finalmente, abandonar a “oposição moderada” (expressão do “EL País”) que tem
seguido e caminhar para a ruptura.
Não há praticamente
ninguém que não diga que o país não esteja a ser conduzido para a ruína total com
esta política.
É caso para perguntar:
Onde está, afinal, o
governo? Num país concreto, formado por cidadãos de carne e osso, ou na
estratosfera? Onde está essa famosa gente vinda de universidades estrangeiras,
essa brilhante geração de académicos com ideias a fervilhar na cabeça?
Ou será que o governo é
que tem razão e toda a gente (ou quase toda a gente) é que paira na idiotia,
como naquela história em que o louco, espreitando através do gradeamento do jardim que circundava o
manicómio, perguntava aos de fora: Eh lá! Vocês aí são todos malucos?
Ou como naquele poema
de Bertolt Brecht em que, a certa altura se diz que:
(…)
o Povo
Perdera
levianamente a confiança do Governo
E
só a poderia reconquistar
Trabalhando
a dobrar. Pois não seria
Então
mais fácil que o Governo
Dissolvesse
o Povo
E
elegesse outro?