12 novembro 2012
A visita da Sra. Chanceler
A visita da Senhora
Chanceler
A Sra. Merkel deve ter
levado uma imagem inefável do país. Todos os esforços foram feitos para que
atravessasse ruas pacíficas e desertas e chegasse sem sobressaltos aos vários
destinos protocolares que lhe estavam preparados. Não havia gente com cartazes,
nem a gritar slogans, nem a atirar vaias à Sra. Chanceler. Uma paz d’alma. Um
dia de sol brando, em ameno azul. Tudo tão mirífico! Parecia um país de postal
ilustrado para encantar turistas. Um país a condizer com a imagem idílica que a
elite dirigente queria transmitir à ilustre visitante e que muita gente faz
gala em que seja a nossa, natural e autêntica, postura de povo ordeiro, afável
e serviçal. De mais a mais, tratando-se de uma senhora que ostenta na sua
firmeza caturra uma vontade inquebrantável de impor uma certa ideia de Europa, pautada
pelas coordenadas do neoliberalismo económico, no qual se revêem os nossos dirigentes.
Por isso, a senhora chegou,
olhou o mar profundo, contemplou embevecida os canhões prussianos do forte, almoçou
e declarou com exaltação que gostava muito de Portugal e que, um dia, viria
para qui passar férias.
Quando chegar à
Alemanha, a senhora vai contemplar, atónita, algumas imagens verdadeiras de
Portugal, que jornalistas do seu país, coscuvilhando, andaram a recolher pelas
ruas, onde os manifestantes eram mantidos arredados a distância conveniente por
infindáveis cordões de polícia.