23 outubro 2012

 

A culpa não pode morrer solteira...

A lógica punitiva que rege a sociedade de hoje, e que constitui um mecanismo de catarse essencial à tranquilidade coletiva, exige que todo e qualquer desastre, ainda que produzido pela natureza, tenha um responsável humano, um rosto, um corpo, para punir.
Cai uma ponte, na sequência de uma enxurrada? A culpa é dos engenheiros que não previram o mau tempo, que não fizeram oportunamente as obras necessárias ao reforço da ponte!
Desencadeia-se subitamente um sismo? A culpa é dos cientistas, que, apesar da ocorrência de pequenos tremores de terra, não indicaram o dia preciso em que o sismo sacudiria a cidade!
Não estou a falar de hipóteses ou de ficções, mas de casos reais, como se sabe.
Na Idade Média (e ainda no sec. XVII) perseguiam-se as "bruxas" quando havia pestes, ciclones, terramotos, porque elas eram os agentes do Mal.
Agora, não são as bruxas (se ainda as há, e há quem garanta que sim), são os técnicos que são encostados ao pelourinho. O "povo" aplaude: a culpa não podia morrer solteira. E a tranquilidade desce sobre os corações aflitos...





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