11 novembro 2012

 

Frau Merkel visita o protetorado portucalense


            A Alemanha que vem aí amanhã não é a da bota ferrada e dos panzers de Hitler, mas também não é a Alemanha cosmopolita, republicana e pacifista de Kant. A Alemanha que vem aí é a que descende diretamente de Lutero: puritana, diabolizando o hedonismo, o luxo de Roma; ascética, pregando a contenção e a parcimónia, promovendo o aforro, abençoando o lucro, a usura, a acumulação de dinheiro; implacável, quando se trata de lidar com os infiéis, com os relapsos, com os preguiçosos, com os devedores…
            A Alemanha que aí vem é a dos banqueiros, investidores, cavaleiros da indústria de ponta (na terra, no mar, e sob o mar). Gostam de vender e até não se importam de emprestar dinheiro aos vadios e preguiçosos, mas impõem-lhes uma vida regrada, uma vida virtuosa de trabalho e privações, tiram-lhes todas as gorduras, para que eles possam mexer-se bem no trabalho e aprender a comer e calar (e agradecer aos seus benfeitores). Eles pregam a virtude, ensinam que todas as utopias são perigosas, são afinal os melhores amigos dos pobres e calaceiros (que são a mesma coisa), trazendo-os ao bom caminho.
            Amanhã vamos ter a visita da imperatriz ao protetorado. Por poucas horas, porque ela não tem tempo a perder, é só uma visita de soberania aos vassalos. Depois a vida continua (na mesma, isto é, sempre para pior).
            Só mais uma coisa: mesmo admitindo a adoção das medidas de segurança que estão previstas, quem vai pagar a fatura? Somos nós, os pelintras?








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