20 novembro 2012
O alerta do professor
Leio todas as semanas as crónicas
que Rui Ramos assina no Expresso. Frequentemente,
não concordo com os seus pontos de vista, mas gosto de me confrontar com ideias
divergentes e até antagónicas das minhas. É um exercício curioso comparar essas
crónicas com as que, na mesma página, são assinadas por Daniel Oliveira.
Normalmente exprimem ideias contrárias sobre os mesmos assuntos ou assuntos
afins.
Assim acontece com as crónicas de
ambos na semana passada sobre a greve geral e as manifestações do passado dia 14. A de Daniel Oliveira bate
a tecla já tangida por vários outros opinadores de que a polícia tardou em
reagir às provocações de um grupo de desordeiros, para depois reagir à
bastonada, indiscriminadamente, contra pessoas inocentes e que não puderam
fugir (tais como pessoas idosas e mulheres com crianças ao colo), fazendo com
que uma greve geral realizada com êxito e de forma pacífica ficasse ensombrada
pelo impacto mediático dessas provocações; a de Rui Ramos alerta para os
perigos, que se adensarão no futuro, das acções empreendidas pela esquerda revolucionária, sem distinguir
devidamente entre o grupo de indivíduos que, no final, provocaram a polícia e
as manifestações que decorreram, de uma forma geral, de modo pacífico.
Se não concordo com o ponto de vista
de Daniel Oliveira quanto ao maquiavelismo que parece imputar à polícia e a
quem nela superintende, sem prejuízo de eu também ter ficado com dúvidas
relativamente à forma de reacção policial, que me pareceu indiscriminada e algo
desproporcionada, atingindo pessoas idosas e mais vulneráveis em zonas como a
cabeça, acho que o artigo de Rui Ramos cai em velhos maniqueísmos e em velhos
estereótipos, como o do «fascismo vermelho». Há quanto tempo não se lia nem se
ouvia essa expressão da “direita radical”, que escrevia nas paredes «comunismo
igual a fascismo», logo a seguir ao “25 de Abril”!
É imperdoável que um historiador não distinga entre uma coisa e outra,
muito embora o estalinismo, que campeou no mundo chamado “socialista,” hoje
reduzido a uns frangalhos caricaturais, fosse um regime totalitário, como o
fascismo, mas não se confundindo um com o outro.
Para ele, os insultos de rua, os
protestos, as manifestações a que temos assistido, os “movimentos sociais”, as
greves, as acções violentas e mesmo a campanha contra Isabel Jonet, enfim, tudo
isso cabe no mesmo saco – a acção insurreccional da «esquerda revolucionária»,
que espera a sua hora para tentar uma desforra do “25 de Novembro”. Contra esse
«fascismo vermelho», alerta o professor, é preciso que se imponha, antes que
seja tarde, a «frente democrática».
Convenhamos que, para um
historiador, é demasiada confusão e demasiado alarmismo.
Esta crónica é um autêntico
bilhete de identidade ideológico do seu autor, contribuindo porventura para esclarecer
a posteriori as reservas que
normalmente são colocadas à sua interpretação do período correspondente ao
Estado Novo da História de Portugal, de que ele foi coordenador.