04 fevereiro 2013
A linguagem-máscara II
Já aqui escrevi sobre a linguagem-máscara, a propósito de termos como flexibilização e ajustamento.
A linguagem engana, mascara, deturpa. Nos tempos que vão correndo, de revisão ideológica
da linguagem, todos os dias se forjam termos e expressões para encobrir ou
distorcer a realidade, em conformidade com a visão do mundo que se pretende
inocular ou, mais prosaicamente, com os objectivos que se pretendem alcançar.
Ainda a propósito de ajustamento, este termo tem sido usado
insistentemente para designar as transformações que se têm operado, a pretexto
ou a coberto do programa da troika,
como se se tratasse de um simples afinamento ou regulação de certas peças na
“máquina social”, quando, na realidade, do que se trata é de provocar mudanças
estruturais nas relações económicas, sociais e políticas, subvertendo as
conquistas alcançadas com o “25 de Abril”.
Fala-se de cortes na despesa, como se o que
estivesse em causa fosse reduzir os gastos supérfluos do Estado ou obter a racionalização
desses gastos, mas, na realidade, o que essa expressão significa (isto é, oculta) são as reduções drásticas de
salários, a eliminação de subsídios de férias e de Natal, os cortes brutais nas
prestações sociais, no ensino, na educação, e na saúde pública, o despedimento
em grande escala de funcionários. Tudo isso se reduz a uma simples operação de
contabilidade pública.
Está em curso o que
pomposamente se designa de “refundação” ou “reforma do Estado”, mas o que se
quer dizer com isso é que é preciso reduzir o Estado às suas funções mínimas,
amputando de forma séria as funções do Estado Social.
Mesmo uma expressão
como “empregadores” não é nada inocente. Com ela pretende-se iludir ou elidir a
posição que ocupam no processo produtivo os proprietários das empresas,
tradicionalmente designados de “patrões”. Como se houvesse uma categoria ou
classe social de “empregadores”. Como se os “empregadores” também não fossem
“desempregadores”. Com efeito, que se há-de chamar a um patrão ou entidade
patronal que procede ao despedimento de uma série de trabalhadores?