08 fevereiro 2013

 

O direito de circulação na Europa

A Europa gosta muito de apregoar os "direitos humanos". Gosta particularmente de se arvorar em autora/tutora desses direitos e de se autolegitimar para examinar o resto do mundo (com exceção dos EUA, claro) quanto aos respeito por esses mesmos direitos, e condenar asperamente os infratores. Esquece-se, porém, de se examinar a si própria. Esquece-se, não. Refugia-se em argumentações hábeis (ou nem tanto), que mal escondem o desprezo pelos que não fazem parte do clube dos ricos. A Europa-fortaleza espezinha e devolve à procedência os magrebinos e africanos que procuram o solo europeu para trabalhar, para fugir à miséria dominante nos seus países ex-colonizados e atualmente governados por amigos dos colonizadores. O direito de circulação universal, que outrora os juristas europeus teorizaram quando convinha à colonização e à expansão territorial ou meramente económica dos europeus, nas primeiras fases do capitalismo, é agora repudiado. A entrada na Europa é só para quem tem dinheiro para gastar/investir. Eventualmente também para os detentores de habilitações qualificadas. Nunca para os desqualificados, os indiferenciados, os párias do mundo. Esses não interessam ao capitalismo vigente, esses estão a mais, não prestam para nada, não têm valor de troca nem de uso...
Mas a xenofobia tem vindo a agravar-se. Agora no interior da própria Europa há fortalezas umas dentro das outras. A de muros mais altos chama-se Inglaterra. Invocando sempre os seus pergaminhos liberais (que, no entanto, não evitaram a exploração colonial impiedosa e cruel de grande parte do mundo, a começar pela vizinha Irlanda), julga-se no direito de descriminar cidadãos europeus, como romenos e búlgaros, negando-lhes a entrada no seu sagrado território, mesmo que seja violando a legislação europeia... A França (outro farol da civilização) também já fizera o mesmo com os ciganos romenos no tempo do napoleãozeco Sarkozy...
Os cidadãos europeus já são objeto de classificação conforme a região geográfica: os arianos/trabalhadores do Norte, os preguiçosos/malandros do Sul, os perigosos delinquentes do Leste...
Os "direitos humanos" são a "grande narrativa" europeia, um canto de sereia que encantou o mundo. Mas cada vez mais desafinado...





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