11 março 2013
A sobrevivência de Marx
Há
dias (5/02/2013), o eurodeputado Paulo Rangel escreveu sobre Marx, na sua
habitual crónica semanal no Público.
Realçou a importância que ainda hoje tem o seu pensamento (a importância filosófica e histórica da sua obra é inegável), mesmo
em correntes sociais que o rejeitam. Porém, fez questão de distinguir Marx do
marxismo ou dos marxistas, o que não é novidade nenhuma, pois o próprio Marx se
demarcou dessas classificações, e principalmente do marxismo-leninismo, o que
também não custa nada a aceitar, dado que o marxismo-leninismo é um pretenso
completamento das ideias de Marx, ou do que se pensava serem essas ideias, uma vulgata revolucionária, oficializada no
tempo de Estaline.
De
resto, estou de acordo quanto à importância de Marx salientada por Paulo
Rangel, que, no seu artigo “O triunfo de Marx”, pôs em relevo, não sei se um
pouco ironicamente, se como uma espécie de “aviso à navegação”, a sobrevivência
do pensamento marxista nos dias de hoje, ao subordinar[-se]
toda a actuação à mais básica e instintiva “necessidade” económica.
Na
verdade, Marx é um espectro que não
cessa de reaparecer, como o pai assassinado de Hamlet, e até nisso, nessa
realidade espectral, Marx não deixa de ser um fantasma insepulto, por mais que
os seus coveiros o queiram declarar como morto e enterrado. O fantasma está
sempre à espreita e na iminência de reaparecer como espectro, que é preciso
esconjurar.
Foi
isso que Jacques Derrida expôs complexamente numa das suas últimas obras, um
livro difícil – Spectres de Marx, de leitura tão escarpada como A Ideologia Alemã, do próprio Marx,
principalmente na análise que este faz do pensamento de Stirner. Espectros que
não existem só fora do pensamento marxista, mas dentro deste mesmo pensamento,
e não só à direita, como também à esquerda.
Pois
a verdade é que Marx está presente, ao menos como espectro, consciente ou
inconsciente, para ameaçar-nos constantemente com o seu triunfo. Assim é que, por mais que neguem e esconjurem a “luta de
classes”, os líderes que nos têm governado (e, de entre os últimos, incluo
evidentemente Sócrates) recorrem frequentemente (tantas vezes de forma
grotesca) a esse conceito fundamental do pensamento de Marx. É ver como se tem fomentado
a “luta de classes” com fins instrumentais e mesmo pérfidos: os trabalhadores do
privado contra os funcionários públicos; os precários contra os trabalhadores que
têm um emprego mais ou menos estável; os desempregados contra os que ainda têm trabalho;
os sindicalizados contra os não sindicalizados; os jovens trabalhadores contra
os reformados, etc.
Não
se trata já da burguesia contra o proletariado, mas dos trabalhadores do sector
privado contra os do sector público e de entre todos estes, dos pretensos
privilegiados (os que ainda têm alguns direitos) contra os que não têm direitos nenhuns. As antigas classes dominantes é que continuam com o seu domínio intocável.