24 fevereiro 2013

 

O cerco


Um dos alertas divulgados nos últimos dias diz respeito ao aumento do número de condóminos que têm deixado de pagar o condomínio e as consequências que isso implica para a degradação do parque habitacional.

Infelizmente, são por demais conhecidos os efeitos funestos que as medidas de austeridade adoptadas têm tido na vida económica e social do país, pondo em causa os direitos mais fundamentais que a Constituição consagra, como o direito à habitação. Como se não bastasse o rebaixamento dos salários, a supressão ou redução substancial dos benefícios sociais e a sobrecarga da classe média com impostos e sobretaxas que raiam o confisco, tem-se elevado constantemente o custo de vida com o encarecimento de todos os produtos de consumo e serviços essenciais e, de um modo geral, com a “actualização” de todas as prestações, taxas e rendas, como sucede com a nova legislação do arrendamento, que, além disso, facilita e desformaliza os despejos. É um cerco claustrofóbico que se tem armado sobre determinadas classes sociais.

Os indivíduos da minha geração e seguintes foram coagidos pelas circunstâncias a adquirir casa mediante empréstimos concedidos pelos bancos -  empréstimos pagos ao longo dos anos com imensos sacrifícios -, pois não havia casas para arrendamento no mercado de habitação. Pois agora têm o castigo merecido por se terem “armado” em proprietários. Derreiam-nos com mais uma subida astronómica do imposto sobre imóveis – o denominado IMI.

Enquanto andaram a pagar a casa, foram esmifrados pela banca; quando, finalmente, julgavam a casa sua, são sugados pelo fisco. Proprietários in nomine, em qualquer dos casos.

Ajoujados de impostos, de cortes, de taxas e sobretaxas, de subidas do custo de vida, como hão-de estes falsos proprietários aforrar para manter e conservar a casa que dizem ser sua?

Primeiro, deixam de pagar o condomínio; depois, se entretanto não tiverem perdido a casa, só lhes resta vê-la cair sobre a cabeça.   





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