22 fevereiro 2013
Liberdade de expressão ou alibi?
Não
creio que seja a liberdade de expressão que está em causa no caso Relvas, como
tem sido enfatizado por alguns. O que, na realidade, aconteceu foi um acto de
boicote político à sua intervenção. É claro que ele foi privado de usar da
palavra, mas o que me parece evidente é que os manifestantes não o fizeram por
razões de lhe quererem coarctar o direito a exprimir livremente as suas ideias
e, muito menos, por uma questão de censura. O que o ministro fosse dizer, num
debate promovido pela TVI no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e
Emprego, era irrelevante do ponto de vista dos manifestantes, fosse qual fosse
o conteúdo do seu discurso.
Muitos
deles têm sido privados de continuarem os seus estudos, ou prosseguem-nos muito
dificultosamente, sentindo na pele os apertos financeiros das suas famílias,
para além de todos os obstáculos conhecidos no acesso ao emprego. Ora, os
manifestantes quiseram exprimir a sua revolta por uma política que execram e
isso na pessoa de um ministro, que, por sinal, tem sido alvo de especial
impopularidade. Sem dúvida que manifestaram intolerância e foram, porventura,
além do admissível no âmbito do direito de manifestação, mas essa intolerância
tem também na sua base situações de desespero sentidas como intoleráveis,
devido a uma política de austeridade que tem vindo a ultrapassar os limites. Em
face disso, o problema da violação da liberdade de expressão é um alibi.