12 maio 2013

 

PREC


 

Parece que uma ideia da actual equipa governamental é promover a igualdade entre o sector público e o privado, ou seja, entre os vencimentos, a idade e o cálculo das reformas, os complementos remuneratórios, as férias, etc. dos trabalhadores de ambos os sectores. Segundo se diz, essa seria uma via para obviar às inconstitucionalidades detectadas pelo acórdão do Tribunal Constitucional. Se este tem insistido no princípio da equidade para chumbar algumas normas do Orçamento, então uma solução que estaria em aberto seria começar por igualar os dois sectores, retirando aos trabalhadores do sector público o que os diferencia, em vantagens, dos trabalhadores do sector privado.

Trata-se, obviamente, de uma leitura no mínimo canhestra do acórdão, se é que não é mesmo uma leitura mal intencionada e destinada a afrontar o Tribunal Constitucional, desafiando, mais uma vez, em nova e inescapável suscitação de inconstitucionalidade, a sua autoridade, para depois, com mais força, se invocar o carácter obstruidor desse órgão jurisdicional e da Constituição, posição tão mais afrontosa do seu poder, quanto o que estaria na forja seria aplicar o novo regime retroactivamente – uma clamorosa ilegalidade, como jamais se viu.

Porém, o que, neste momento, mais fere a minha atenção é isto: se se manifesta, assim, tão ardente vocação de igualação (por baixo, pois está visto), por que não ir para um princípio de equiparação de todas as classes sociais, estabelecendo, por exemplo, um padrão de vida médio para todos sem excepção e obrigando os que excedessem esse padrão a devolver o excesso à sociedade, sob a forma de um imposto social ou de solidariedade?

Sim, por que é que o princípio da igualdade há-de ser aplicado somente aos trabalhadores do sector público e do sector privado? Por que é que o tão malfadado igualitarismo é tão mau quando aplicado como princípio geral e já é tão louvável, quando aplicado apenas a determinados sectores da sociedade, por sinal os que vivem do trabalho assalariado?

Será porque o plano revolucionário de empobrecimento em curso (PREC) se destina a atingir apenas algumas classes sociais, precisamente as mais vulneráveis?





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