29 setembro 2013

 

Os juízes do TC e outros artistas


 

 

O Tribunal Constitucional cumpriu mais uma vez a sua função de obstar a que a política de anulação dos direitos fundamentais conquistados com o “25 de Abril”, nomeadamente na área laboral, seja exaustivamente levada a cabo.

Fê-lo, como tem feito, com muita parcimónia, salvando, das alterações legislativas, o máximo que podia salvar, limitando a declaração de inconstitucionalidade aos pontos em que a lei era mesmo afrontosa de direitos consagrados na Constituição, como eram aqueles casos em que a cessação do contrato de trabalho podia ter lugar contra o princípio da justa causa e certas disposições relativas aos instrumentos de regulação do contrato colectivo. Quer dizer, disposições que, de forma mais descarada, devolviam à entidade patronal o poder de despedir segundo o seu livre arbítrio ou, pelo menos, não acautelando a possibilidade de tal acontecer, indiscriminadamente, a coberto de outros objectivos legais, e ainda algumas situações que feriam o conteúdo essencial do direito de contratação colectiva, que, aliás, deveria ter conduzido à fulminação de todas as disposições relativas a esse complexo normativo da lei, como fez questão de sublinhar, no seu voto de vencido, o presidente do Tribunal Constitucional.

Desta forma, o Tribunal Constitucional, agindo com a parcimónia apontada, mais uma vez demonstrou que não se deixa coarctar na sua independência, nem amedrontar pelas vozes funestas de certos propagandistas, quando se trata de afirmar o núcleo mais essencial dos direitos e princípios fundamentais da Constituição.

Com parcimónia, disse eu, não da forma radical que os despeitados com o exercício do Tribunal têm vindo a assacar-lhe, com uma desfaçatez encarniçada, como há uma semana Marques Mendes, na “Visão”, que apontava a “liderança ideológica” do Tribunal (reparem: a “liderança ideológica”), acusando os juízes de terem, como nunca, uma argumentação muito fraca (não sei qual a profundidade jurídica de Marques Mendes, que acho que foi político toda a vida, mas talvez tenha tido alguns intervalos jurídicos) e que se abespinhou contra o povo português, por ter ainda uma grande “subserviência” (sic) em relação às decisões do TC. Eu não sei é como o povo português consegue ainda ter tanta resignação para aguentar tanta carga que lhe têm posto em cima, mas disso não são culpados os juízes do TC; são talvez mais culpados outros artistas, que gostariam de ver o TC em aliança ideológica com eles.





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