18 fevereiro 2015
Luísa Dacosta
Li há poucos momentos atrás que
Luísa Dacosta tinha falecido e tinha sido cremada hoje no crematório de
Matosinhos.
Fiquei sinceramente consternado.
Há coisa de dois anos, com o meu hábito de entremear o trabalho com pequenos
textos, li um livro dela que aguardou na estante durante bastante tempo, até chegar
a sua vez de ser lido. É um diário com muitas lacunas temporais, embora mantido
durante anos a fio. Chama-se Na Água Do
Tempo. É um livro de elegantíssima e de muito vernácula prosa. E não só: é
um livro de prosa poética. Proporcionou-me tão agradáveis e felizes momentos,
que quis que a sua água límpida, fresca e rejuvenescedora manasse
indefinidamente.
Parece impossível como há tantos tesouros
escondidos em pequenos livros e pequenos textos (refiro-me apenas ao formato),
que não merecem os favores do público, moldado pelo markting para aceitar determinados géneros literários (ou nem
tanto) que primam sobretudo pela extensão, cada vez mais desalmada e mais em
desarmonia com o nosso tempo acelerado, e não necessariamente mais portadores
de beleza e de emoção estética.
Desejei ardentemente encontrar a
escritora (afinal, quase minha vizinha e com a qual já emparceirei, nos
primeiros anos da década de 80, num seminário sobre liberdade de imprensa que
se realizou na Casa da Imprensa, em Lisboa) e ter a oportunidade de lhe agradecer
os suavíssimos momentos com que me ajudou a suportar as agruras de um trabalho
muitas vezes árido. Faleceu sem que o destino nos tivesse proporcionado esse,
por certo, gratificante encontro para nós ambos.