06 julho 2015
Do estrondoso "não" grego à "abertura" europeia
Merkel e companhia apostaram tudo na vitória do "sim" na Grécia. Acreditaram que o povo grego iria ter medo, que seguiria as "recomendações sensatas" dos "amigos" europeus. Enganaram-se e o povo grego deu ao mundo uma das maiores lições de dignidade e de energia de que me lembro nas últimas décadas. Os governantes europeus, formados nas escolas económicas e de "negócios", não têm preparação em história social e política, e por isso acreditaram piamente que o "sim" iria ganhar. E, ganhando o "sim", o governo do Syriza cairia; e, caindo o governo do Syriza, a Europa do euro voltaria à paz (podre) por eles instaurada, nunca mais havendo veleidades emancipatórias de nenhum país do rebanho pastoreado pela pátria de Lutero. Merkel estava mal informada e sofreu uma derrota igual à medida da vitória do povo grego. Depois de algumas vozes (ir)responsáveis virem apelar à punição da Grécia (esses inacreditáveis "socialistas" Gabriel e Dijsselbloem), Merkel foi a Paris (teve esse incómodo para tentar disfarçar que é ela que dita as decisões) para dizer à Europa e ao mundo (urbi et orbi) que a Europa é também "solidariedade"... Se esta afirmação não for apenas uma tirada de humor negro (mas ela não é forte nisso), então há algum recuo; a Alemanha terá receio de que a "zona euro" seja um território de entrada e saída, com as incertezas que isso provoca nos "nervosos" mercados (sempre cheios de "stress")... Enfim, uma baralhada que esta governação europeia, entre a sua arrogância e algum receio pelas "águas desconhecidas" da exclusão de um país, não sabe deslindar... A prazo, talvez a saída da Grécia se torne inevitável, porque não tem nem nunca terá condições para pagar os empréstimos. Mas ao "Grexit" (expressão típica do calão rasca dos burocratas europeus, logo imitados pelos jornalistas de serviço) outros "exit" poderão seguir-se... (Até o Merkelexit, quem sabe?)