04 novembro 2015

 

Os temas-tabu


 

Já disse o que pensava sobre as exigências do presidente da Republica e de toda a direita portuguesa relativamente à indiscutibilidade do Tratado Orçamental e da pertença ao euro e outras coisas mais para se ser governo. Concordo, pois, com o “post” precedente de Maia Costa. No fundo tenta-se transformar  essas matérias em componentes do chamado “pensamento único”, ou, na sua formulação negativa, em elementos indissociáveis do: “Não há alternativa”. O mais grave é que parece que nem se pode pensar de outra maneira. São matérias-tabu.

Procurei nos meus arquivos algum material sobre isso. E deparei com um número do Le Monde Diplomatique dedicado a esses temas – “Portugal nas amarras do novo Tratado Orçamental” – Edição Portuguesa –Março de 2012.

Eis o que escreveu, num longo artigo, João Galamba, deputado e dirigente do PS:

 

O Pacto Orçamental (Fiscal Compact) que consta do novo tratado, determina que os Estados signatários se comprometam, sob pena de pesadas sanções políticas e financeiras, a manter um défice estrutural das contas públicas igual ou superior a 0,5% do PIB e, para os países com dívida pública superior a 60%, a reduzir o volume da dívida até esse valor a um ritmo anual de 1/20.Mais do que os limites de défice, o maior problema deste novo Pacto que, no fundo, representa o regresso à pureza original do Pacto de Estabilidade e Crescimento) são as imposições em termos de redução da dívida pública. Tendo em conta os actuais níveis da dívida pública (87% na zona euro, 82% na União Europeia), este pacto constitucionaliza a austeridade em toda a Europa durante os próximos anos; para alguns países europeus, entre os quais Portugal, este pacto implica anos, senão mesmo décadas, de austeridade. Os líderes que assinaram este pacto estão a dizer aos seus cidadãos e ao mundo que a política europeia dos próximos anos vai ser a mesma que tem sido seguida nos últimos dois anos. O que está, portanto, é para  continuar e aprofundar.

(…)

E  sobre a moeda única na crise:

 

A crise das dívidas soberanas é uma ficção que a direita inventou para poder pôr em prática as únicas políticas que conhece e que sempre defendeu e para evitar reconhecer aquilo que deveria ser óbvio: a actual crise foi, em grande medida, causada por uma união monetária disfuncional e a sua resolução implica, necessariamente, uma profunda transformação na actual arquitectura institucional da moeda única. A austeridade, o ataque aos salários e ao emprego e o desmantelamento do Estado social não são respostas a esta crise. São as únicas respostas que a direita europeia imagina para toda e qualquer crise. E foi assim que se transformou uma crise sistémica da moeda única, para a qual a direita não tem respostas credíveis, num problema comportamental de alguns países incumpridores.

(…)





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?


Estatísticas (desde 30/11/2005)