20 outubro 2015

 

A linguagem redobrada do medo


A campanha eleitoral não acabou ainda. Continua, e em força, após as eleições.

A hipótese de o PS poder estabelecer um acordo, ao menos de incidência parlamentar, com os partidos à sua esquerda, nomeadamente o BE e a CDU (PCP e Os Verdes) está a gerar uma inusitada campanha, por parte dos partidos da coligação ganhadora e sectores da sociedade portuguesa mais alinhados com a direita e o centro-direita, nos quais se inclui boa parte dos media, que se pode classificar como histérica. Dá a impressão que recuámos aos antigos tempos do Portugal do medo, em que o espantalho comunista é brandido de uma forma alarmista e sugestiva de receios inimagináveis. Um medo que se junta ao que foi insistentemente exercitado durante a campanha eleitoral propriamente dita – o da iminência de inversão da situação de pressuposta estabilidade conseguida até aqui e de frustração dos sacrifícios impostos ao povo português, com o consequente agravamento das medidas de austeridade.  

Essa campanha é indecorosa e trauliteira, recorrendo a expressões verbais verdadeiramente sinistras (para não dizer “terroristas”). Como se Portugal estivesse a um passo de cair nas garras dos forças do mal. Só falta invocar Nossa Senhora de Fátima para salvar o país de uma  queda satânica.

 

PS – Não obstante o que escrevo, também discordo de uma certa euforia e até arrogância de alguns comentadores da esquerda, que podem configurar a atitude simétrica à descrita.





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