03 março 2016
Ainda sobre a eutanásia
Com este mesmo título José Souto de Moura publicou anteontem no "Público" um artigo contra a eutanásia onde produz algumas afirmações que me parecem merecer resposta, o que faço frontal e amigavelmente... Vou apenas referir-me à eutanásia voluntária, que é a que o manifesto publicitado propõe que seja despenalizada. Afirma Souto de Moura que se a decisão de morrer for do próprio estará legitimado o suicídio e a ajuda ao suicídio. E acrescenta: "...porque a vida da pessoa não é, para si mesma, a coisa de que, como tal, deva poder dispor. Ninguém começou a viver por obra sua." Discorda-se profundamente! Se, como disse A. Gedeão, ninguém foi ouvido no ato de que nasceu ("Fala do homem nascido"), isso não significa que a pessoa humana não tenha, em certas circunstâncias, uma palavra a dizer sobre o ato de morrer... Sem que tal signifique um irrestrito "direito ao suicídio", com que Souto de Moura nos tenta atormentar a consciência... Na verdade, a legalização da eutanásia voluntária (e a consequente "ajuda" de terceiros, se necessária) não se destina a abranger todas as situações em que o sujeito decida, por qualquer razão, morrer, mas sim e apenas aqueles casos restritíssimos em que a vida não só perdeu "qualidade" como se tornou meramente "vegetativa". É para esses casos que a vontade de morrer, antecipadamente afirmada pelo sujeito, deve relevar... A eutanásia deve pois assentar em requisitos subjetivos, mas também objetivos... Não vale a pena falar das consequências da eutanásia por decisão unilateral de outrem, fantasma que Souto de Moura agita, porque está de fora das intenções do manifesto. Ninguém quer dar uma injeção atrás da orelha aos velhinhos...