27 junho 2016
A Europa em tempo de viragem
Também penso, como o Maia
Costa, que o resultado do referendo no Reino Unido foi determinado pelas piores
razões: xenofobia, imigração, controle de fronteiras contra a livre circulação
de pessoas no espaço da EU, reacção contra os refugiados das guerras no Médio
Oriente, quando o Reino Unido (RU), no tempo de Toni Blair, foi um dos
principais responsáveis pelo recrudescimento da instabilidade e do terrorismo
nessa região e fora dela.
É certo que muitos dos tradicionais
eleitores do Partido Trabalhista contribuíram para o resultado que foi obtido,
mas isso só significa que esses eleitores, que Corbin não conseguiu segurar –
dizem que por não se ter empenhado resoluta e convictamente na defesa da
manutenção do RU na EU – se deixaram mover por razões conservadoras e mesmo reaccionárias.
Claro que o resultado
do referendo é um aviso sério para os eurocratas e a política que tem vindo a
ser seguida no seio da EU, não inteiramente alheia àquele resultado. Os analistas,
de modo geral, concordam nesse ponto e têm vindo a manifestar a sua opinião no
sentido de que a União tem de mudar de rumo e tornar-se mais democrática, pois
a democracia escasseia na suas instituições e a raiva contra os “patrões” que
presentemente a comandam vai-se tornando cada vez mais patente por parte dos
povos que sofrem a sua arrogância e discricionariedade. Muitos desses analistas
(e não são da extrema esquerda, nem radicais) até pensam que é de abanões como
este que a EU precisa para se reformar. Mas talvez os “patrões” da EU ainda não
aprendam desta. Por alguma razão eles são os “patrões”.
O Bloco de Esquerda aproveitou
o resultado do referendo britânico para também anunciar uma campanha por um
referendo intra muros, no caso de os
eurocratas insistirem nas sanções a Portugal. Acho que foi inoportuna essa
mensagem, mas grande parte dos “operadores” da comunicação social, obedecendo a
um impulso irresistível para o sensacionalismo e a descontextualização,
começaram logo a falar do assunto como se o referendo fosse um dado adquirido
por aquela força partidária, e a pôr ao barulho representantes de outros
partidos e o próprio presidente da República. É infelizmente uma técnica muito
seguida nos media.