26 dezembro 2017

 

O balanço do ano

Agora que estamos perto do fim do ano, é costume fazer o balanço do que de positivo e negativo ocorreu durante estes doze meses. À cabeça dos acontecimentos negativos vêm inevitavelmente os incêndios. Eles constituíram, sem dúvida nenhuma, um triste e lamentável acontecimento. Para ser mais exacto, uma tragédia. Porém, há quem faça disso uma arma de arremesso político, à falta de melhores motivos para travar um combate que se tem mostrado frustre.
A verdade é que, procurando-se encontrar na conjuntura política uma explicação para a tragédia, só se está a iludir um problema estrutural que atravessa vários governos e várias dezenas de anos de incúria e a mostrar que não se percebeu ou que não se quer perceber nada do que aconteceu. Claro que, entre Junho e Outubro, alguma coisa poderia ter sido aprendida pelo governo actual, de modo a prevenir-se de outra maneira a possibilidade de eclosão de uma nova catástrofe, encontrando terreno fértil no estado em que se encontra a nossa floresta, o caos urbanístico que prolifera por muitas zonas do país e as tão notórias alterações climáticas.
Porém, a grande responsabilidade do que aconteceu é colectiva, repartindo-se por vários governos, autarquias, entidades administrativas ligadas a vários sectores e aos particulares que não cuidaram de acautelar devidamente o seu património e o alheio e evitar tantos danos em pessoas, animais e coisas. Pode-se dizer que trabalhamos todos, em conjunto, uns com mais responsabilidade e outros menos, para que tudo se encaminhasse para o desfecho que acabou por se verificar. A tragédia é, em grande parte, uma obra nossa.
O Estado falhou na protecção das pessoas, dizem alguns dos que agora apontam o dedo acusador, mas que provavelmente já tiveram grandes responsabilidades a nível governativo, autárquico e em outras instâncias de poder. Pois falhou. Mas o Estado é mais do que o governo actual e mais do que o tempo presente.
O Estado é o poder central e local, o conjunto dos órgãos de soberania e um complexo de organismos por meio dos quais se desenvolve a sua actividade no território. O Estado é um continuum temporal que envolve passado e presente e que se projecta no futuro. O Estado também somos nós. Se o Estado falhou, como pretendem esses agora tão solícitos coleccionadores de falhanços estaduais, também eles conduziram o processo para o falhanço, enquanto responsáveis que foram pela coisa pública e nós, como cidadãos, também falhámos, por não termos feito o que nos competia no que toca à nossa responsabilidade individual naquilo que dependia da nossa actividade para evitarmos o que aconteceu.

O ano correu bem em quase todos os aspectos. Pelo menos, há muito que não tínhamos um ano tão bom do ponto de vista colectivo. Se a tragédia foi o principal acontecimento a empanar o brilho do ano que agora finda, temos que reconhecer a nossa quota de responsabilidade no sucedido. E não é com beijinhos e abraços e muita compunção à flor do rosto que as coisas se resolvem.





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