29 novembro 2017
Eis a agitação social
Acho
piada a certas pessoas francamente conotadas com a direita política
e dirigentes dessa área armados em vigilantes do cumprimento à
risca, por parte dos partidos de esquerda e instituições
representativas de trabalhadores, dos objectivos políticos que
tradicionalmente fazem parte de um programa de esquerda. Essa gente
fartou-se de lamentar que não houvesse agitação social, que os
sindicatos não viessem para a rua fazer manifestações, que os
trabalhadores estivessem tão caladinhos, enfim, que os partidos de
esquerda que sustentam o governo trouxessem o país tão anestesiado.
Dava
a impressão que essa direita se tinha convertido ao programa
político-social da esquerda. Ou seria outra razão que a movia a
lamentar os partidos de esquerda, os sindicatos e os trabalhadores
por não cumprirem o seu papel de insatisfeitos e reivindicadores?
Sei é que, com as greves dos enfermeiros, dos médicos, dos
professores e outras ameaças dos funcionários públicos, essa tal
direita rejubilou (o que não quer dizer que eu entenda que essas
greves vieram ao encontro da direita) e, respirando de alívio,
conseguiu dizer: “Eis, finalmente, a agitação social”. Como se
dissesse: “Eis, finalmente, a chuva. Já estávamos fartos de
seca”.