28 junho 2018

 

José Tolentino de Mendonça

A escolha pelo Papa deste padre/poeta português para bibliotecário do Vaticano é uma distinção que honra Portugal e que para mim vale muito mais do que os cargos que alguns políticos têm arranjado na "Europa" ou em instâncias internacionais (exceciono apenas Guterres).
Do recente "Teoria da Fronteira", tendo como pano de fundo os "sans papiers", transcrevo, com a sua autorização presumida, este poema tão atual nos dias que passam:

O barco partido

Os corpos são geografias deslocadas
correntes em fuga do que primeiro é visível
os corpos velam sobre uma passagem
e por vezes regressam para dizer
em que medida somos
fragmentos e fantasmas de outros corpos

imagino o meu descendo no escuro
um bote atirado à solidão
ensaiando ao mesmo tempo
uma liturgia e um naufrágio
para o qual tive sempre apenas espanto
e jamais respostas







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