01 dezembro 2005
A liberdade para todo o mundo
Lembram-se certamente da segunda "inauguração" de Bush, em Janeiro deste ano. Proclamou ele então que o grande objectivo deste seu segundo mandato era «a expansão da liberdade para todo o mundo». Esta proclamação solene foi levada a sério por alguns em Portugal. José Manuel Fernandes escreveu um editorial emocionado no Público: uma nova era tinha começado para a humanidade.
Desde então o que se passou? Que passos deu a liberdade? Progrediu a democracia, por exemplo, no Médio Oriente? A eleição de um presidente ultra-ortodoxo no Irão (reacção nacionalista ao discurso agressivo norte-americano) não o confirma; as eleições no Egipto foram o costume (roubadas); o resto do mundo árabe e muçulmano não deu qualquer passo para a democracia.
Houve, é certo, eleições no Afganistão. Mas eleições não significa democracia. A todo o custo tem vindo ali a ser montado um cenário democrático (um português já pagou com a vida a encenação). Mas por detrás da pintura estão os "senhores da guerra", que dominam a seu bel-prazer os respectivos territórios.
No conflito israelo-palestiniano houve, sim, algum progresso em direcção à paz. O pragmatismo parece finalmente prevalecer sobre o dogmatismo ideológico entre os israelitas. Aguardemos os próximos episódios.
E o Iraque? Bem, sobre o Iraque, onde tudo está tão negro, falarei depois.
Agora vou falar do principal promotor do retrocesso da democracia no mundo: os EUA!
Tudo o que se vem sabendo sobre os métodos de combate ao terrorismo é uma verdadeira história de terror que não tem fim. Já conhecíamos as fotografias de Abu Ghraib. Já sabíamos da existência de Guantánamo. Já tínhamos tomado conhecimento do memorial justificativo da tortura da autoria do actual ministro da Justiça Albert Gonzales. Mas os últimos tempos têm trazido mais notícias apavorantes. O novo director da CIA, Porter Goss, muito placidamente explica, recorrendo ao malabarismo de restringir o conceito de tortura internacionalmente reconhecido, que a sua instituição não faz mais do que aplicar «uma variedade de métodos únicos e inovadores» (cinismo, manipulação, mentira, tudo vale); e eventualmente para o trabalho mais sujo, há que «delegar em indivíduos no estrangeiro a possibilidade de aplicarem os seus critérios» (acrescentou o mesmo senhor). É o que poderemos chamar "outsourcing" em matéria de tortura.
Por outro lado, Guantánamo não é mais do que uma peça de um puzzle de dimensões exactas desconhecidas, mas espalhado pelo mundo, também aqui na nossa Europa. Para abastecer esse complexo sistema de terror a CIA freta aviões civis, descaracterizados, que cruzam continentes, pousam nos nossos aeroportos (nossos europeus e nossos portugueses!) transportando prisioneiros desconhecidos, que não deixam rasto. São os novos "submersos" dos campos de concentração. Aguardam-se novas notícias, novos episódios. Esta novela de terror não pára.
De Inglaterra, a "pátria da democracia", a pátria do primeiro parlamento livre, também chegam notícias más. A actuação da polícia de Londres no caso Menezes (atira-se primeiro, confirma-se depois!) e a posterior tentativa, primeiro de deformação dos factos, depois de boicote da investigação das responsabilidades do comandante da polícia (por desgraça, também ele Blair!) são sinais evidentes de degradação da qualidade da vida democrática em Inglaterra.
Ultimamente, as tentativas de Blair (o Tony) para fazer aprovar a lei dos 90 dias de detenção administrativa (ficou pelos 28, o que já não é pouco!) são também decepcionantes, mas coerentes afinal com a política por ele sempre seguida, mais parecendo aliás ele o herdeiro da sra. Thatcher, e não os conservadores na oposição .
Bem, mas há uma boa notícia, e fresca, para a democracia. Omar Bongo, presidente do Gabão há 38 anos, foi reeleito por mais 7. Não é certamente por acaso que a democracia se dá tão bem no Gabão: o país é um dos principais produtores africanos de petróleo e Bongo um grande amigo do Ocidente.
Desde então o que se passou? Que passos deu a liberdade? Progrediu a democracia, por exemplo, no Médio Oriente? A eleição de um presidente ultra-ortodoxo no Irão (reacção nacionalista ao discurso agressivo norte-americano) não o confirma; as eleições no Egipto foram o costume (roubadas); o resto do mundo árabe e muçulmano não deu qualquer passo para a democracia.
Houve, é certo, eleições no Afganistão. Mas eleições não significa democracia. A todo o custo tem vindo ali a ser montado um cenário democrático (um português já pagou com a vida a encenação). Mas por detrás da pintura estão os "senhores da guerra", que dominam a seu bel-prazer os respectivos territórios.
No conflito israelo-palestiniano houve, sim, algum progresso em direcção à paz. O pragmatismo parece finalmente prevalecer sobre o dogmatismo ideológico entre os israelitas. Aguardemos os próximos episódios.
E o Iraque? Bem, sobre o Iraque, onde tudo está tão negro, falarei depois.
Agora vou falar do principal promotor do retrocesso da democracia no mundo: os EUA!
Tudo o que se vem sabendo sobre os métodos de combate ao terrorismo é uma verdadeira história de terror que não tem fim. Já conhecíamos as fotografias de Abu Ghraib. Já sabíamos da existência de Guantánamo. Já tínhamos tomado conhecimento do memorial justificativo da tortura da autoria do actual ministro da Justiça Albert Gonzales. Mas os últimos tempos têm trazido mais notícias apavorantes. O novo director da CIA, Porter Goss, muito placidamente explica, recorrendo ao malabarismo de restringir o conceito de tortura internacionalmente reconhecido, que a sua instituição não faz mais do que aplicar «uma variedade de métodos únicos e inovadores» (cinismo, manipulação, mentira, tudo vale); e eventualmente para o trabalho mais sujo, há que «delegar em indivíduos no estrangeiro a possibilidade de aplicarem os seus critérios» (acrescentou o mesmo senhor). É o que poderemos chamar "outsourcing" em matéria de tortura.
Por outro lado, Guantánamo não é mais do que uma peça de um puzzle de dimensões exactas desconhecidas, mas espalhado pelo mundo, também aqui na nossa Europa. Para abastecer esse complexo sistema de terror a CIA freta aviões civis, descaracterizados, que cruzam continentes, pousam nos nossos aeroportos (nossos europeus e nossos portugueses!) transportando prisioneiros desconhecidos, que não deixam rasto. São os novos "submersos" dos campos de concentração. Aguardam-se novas notícias, novos episódios. Esta novela de terror não pára.
De Inglaterra, a "pátria da democracia", a pátria do primeiro parlamento livre, também chegam notícias más. A actuação da polícia de Londres no caso Menezes (atira-se primeiro, confirma-se depois!) e a posterior tentativa, primeiro de deformação dos factos, depois de boicote da investigação das responsabilidades do comandante da polícia (por desgraça, também ele Blair!) são sinais evidentes de degradação da qualidade da vida democrática em Inglaterra.
Ultimamente, as tentativas de Blair (o Tony) para fazer aprovar a lei dos 90 dias de detenção administrativa (ficou pelos 28, o que já não é pouco!) são também decepcionantes, mas coerentes afinal com a política por ele sempre seguida, mais parecendo aliás ele o herdeiro da sra. Thatcher, e não os conservadores na oposição .
Bem, mas há uma boa notícia, e fresca, para a democracia. Omar Bongo, presidente do Gabão há 38 anos, foi reeleito por mais 7. Não é certamente por acaso que a democracia se dá tão bem no Gabão: o país é um dos principais produtores africanos de petróleo e Bongo um grande amigo do Ocidente.