19 agosto 2006

 

Falação

A comunicação entre os seres humanos é uma mercadoria. E o que é que não é mercadoria? Por isso compelem-nos a comunicar. Quanto mais se comunicar, melhor; mais rendimento haverá (em termos monetários, que não provavelmente em termos de comunicação humana).
Em férias, naturalmente com mais tempo de ócio, atento na publicidade televisiva. Descontraído num sofá, os olhos escorregam insensivelmente para o televisor. É este o poder da imagem, captando a atenção desprevenida do espectador. E lá vem o anúncio que incita à comunicação telefónica. Usar o telefone o mais que se possa. Falar, falar, falar, até não se poder mais. Mas não se trata de verdadeira comunicação; trata-se de falação. Estamos na era da falação.
Por um perverso desvio, estava quase tentado a dizer «felação». E, na verdade, a coisa não andará longe disso. A publicidade procura exercer uma sedução, incutir um desejo. Neste caso, um desejo fundamentalmente oral, à volta desse apêndice sempre em riste que é o aparelho de telefone.





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